quarta-feira, 7 de junho de 2017

daniel


o daniel lopes guaccaluz é um escritor da estirpe dos baitas, um puta dum escritor que enfia a faca bem fundo na ferida para retorcer o coração e as entranhas da dor.
arrisco dizer que o seu último livro, o "no céu com diamantes" é uma das maiores obras literárias que surgiram no país nos últimos tempos, tipo de livro que você lê numa tacada só, num vômito só, segurando o estômago embrulhado nas mãos.
tipo de livro que você termina de ler e fica suando gelado por vários dias.
pois bem, o daniel virá à casa amarela no sarau de domingo que vem onde lançará o seu "no céu com diamantes" e desde já vou avisando: não perdoarei quem não vier para fortalecer um lado.
akira - 05/06/2017.


hideko


para ferver chá
na cozinha chia
desesperada chaleira
lá fora a chuva
cantarola chateada
a mesma chave chorosa
tchapo-tchapo
tchapo-tchapo
tchapo-tchapo
tchapo-tchapo
na caixa baixa do tietê
no romano lá embaixo
vai embora o trem pachá
tchatchapopo-tchatchapopo
tchatchapopo-tchatchapopo
tchatchapopo-tchatchapopo
akira - 05/06/2017.


56º sarau da casa amarela



clóvis


casa amarela em cena
sarau da maria








sábado, 3 de junho de 2017

resenha de fernando rocha, para o "oliveiras blues"


Oliveiras Blues, de Akira Yamasaki


A poesia de Akira é múltipla, se recusa a ficar presa em seu corpo, depois de extraída do seu ser, busca o outro, seja juntando-se a música dos Cabras de Baquirivu, banda responsável por musicar os poemas contidos em Oliveira blues, contando com a participação de outros amigos do universo da música para a gravação do cd ao vivo, quanto o teatro, por meio da encenação de Clóvis dedo mole, poema híbrido de narrativa e verso interpretado pelo coletivo Casa Amarela Encena.


Num possível diálogo com a famosa quadra de Sá-Carneiro (Perdi-me dentro de mimPorque era labirinto...), dentro de si pode não haver conforto, no poema Oliveira Blues 3, o fundador da estirpe dos baitas, perambulando na geografia íntima escreve: não sou mais o mesmo/ agora moro mais longe/ na periferia de mim.
Ao longo do livro, como nos chama a atenção o escritor João Caetano na apresentação, há a presença da figura pássaro e seu voo, desde o primeiro verso encontrado: voar aberto, contudo, outro espaço percorrido com as sensações transformadas em palavras, é o da infância: - quem assobia, akira/ não come semente, alquimia que transforma a dura lição paterna em verso.  
 No caminhar cronológico interno da obra, encontramos em 1960, uma lição biográfica na feitura do poema, tendo o plantio da melancia e sua colheita, como metáfora: todos os dias eu perguntava a ele (pai) se a minha melancia já estava no ponto e todos os dias ele respondia que ainda não, que estava verde ainda, que tenha paciência, akira, mas um dia não aguentei mais a curiosidade e a gula e com um canivete afiado talhei a bitela de cima a baixo...
Na poesia de Akira, o corpo é folha e as datas, fatos e sensações gravam na pele, como marca divisória de uma fratura no braço, que aponta a mudança no humor do menino que perdeu a capacidade de sorrir. Num salto dentro do tempo, o menino torna-se pai zeloso: filha, eu não quero/ que você caia e se machuque. Para o filho há: em alguma manhã/ dentro do seu sonho/ você corria sem dor/ e o seu sorriso dormia/ nos meus braços.
Parece que em alguns momentos, a poesia do homem que mescla um sorriso fácil com olhar de menino, desconhece a palavra como signo que possibilita a comunicação direta entre a sensibilidade do criador com o sentir do leitor: - era eu chorando alto/ em algum lugar bem fundo/ do silêncio de mim.
O poeta está dentro do cotidiano, os cenários de suas criações não são frutos do imaginário ou de uma observação distante, como o joalheiro esculpindo pedra preciosa, este senhor de ascendência japonesa, esculpe poesia do simples que há em nossos dias, flanando por cenários como botecos, padarias, ambientes de comunhão na periferia, locais onde se conversa sobre temas como o jogo de baralho, a partida de futebol, assuntos ressignificados, cumprindo um dos ideais de Manuel Bandeira: restabelecer a beleza do cotidiano.
Há artistas que têm sua obra ligada ao território onde residem, críticos dizem que os cineastas Ingmar Bergman e Win Wenders, quando produziram filmes em países estrangeiros, não conseguiram atingir os níveis de expressividade das obras criadas em seus países de origem, Akira é o homem que conecta a sua interioridade com o bairro onde vive, visceral, simples e direto como um acorde do velho ritmo norte americano.  


Leia Mais: http://nanquin.blogspot.com/2017/06/oliveira-blues-de-akira-yamasaki.html#ixzz4ixBIff6N
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

eu, retrato/arte de roberto cândido


resenha de claudinei vieira para o lançamento do oliveiras blues no patuscada


Akira Yamazaki gosta de se dizer 'um bom poeta ruim'. Creio que ninguém , além dele, concorda com isso.
O fato é que Akira apresenta uma absurda sofisticação debaixo de uma aparência de linguagem que, à primeira vista, é tão simples. Linguagem de povo, linguagem do dia-a-dia, linguagem de conversas informais em rodas de amigos ou desabafos sentidos sobre a existência humana enquanto se toma mais um copinho de cachaça. O fato é que, com essa linguagem, realiza o que poucos poetas (e escritores em geral) (e artistas em geral) conseguem, com tal maestria: a partir do simples, a partir do único, alcançar o sublime, o imponderável, o humano. Tente-se ler um poema de Akira Yamazaki e e não sentir o coração mais aberto, mais sensível (ou sentido), mais emocionado.
E o que é Akira como poeta é como pessoa, como figura, como ente. Impossível não sentir seu carisma, sua simpatia, sua humanidade, impossível não se impactar com sua simplicidade e com essa tal tem percorrido os caminhos da poesia (da literatura) e da amizade (das pessoas) e vice-versa e ao contrário também.
Akira Yamasaki estará no evento que realizo há alguns anos, Desconcertos de Poesia, trazendo seu mais recente livro, 'Oliveiras Blues', que também é um cd com alguns dos seus poemas musicados pelos Cabras de Baquirvu (e alguns dos Cabras também estarão presentes), no local mais perfeitamente poético e inspirador destes últimos tempos, o Patuscada, organizado pelo editor e poeta Eduardo Lacerda.
[ E quanto a isso, aliás, reitero esse detalhe muito bacana e até poético, eu diria: a presença na mesma noite de desconcertos de duas das figuras humanas mais carismáticas e que estão ajudando a definir a moderna literatura brasileira, Akira Yamazaki e Eduardo lacerda! Caramba! A noite vai ser pouca para tanta energia boa, para tanta poesia (literária e humana) ]
Akira Yamazaki no DESCONCERTOS DE POESIA NO PATUSCADA! Caramba! Vai ser uma noite absurda de tão bonita.

Claudinei Vieira.


vinagre palhinha


não reclame, sú
da vida e do tempo
que conspira contra
você não viu?
andré e clarice estão crescidos
apesar de você não perder a mania
de chamá- los de meus bebês
e a cada dia ficam mais lindos
você não se lembra?
a água batia na bunda
temperávamos a salada
com sal, óleo de soja barato
e vinagre de vinho tinto palhinha
akira - 02/06/2017.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

eu me arrependo


eu me arrependo de ter odiado
e perdido amigos em consequência
 de opções político/ideológicas
foi há muito tempo
quando então éramos jovens
e tudo parecia possível
foi há muito tempo
lutamos juntos para derrubar
a ditadura militar no país
fizemos juntos poemas indignados
e canções incendiárias para propagar
os ventos das mudanças
cantamos juntos pelas praças
nas ruas, favelas, sindicatos e igrejas
juntos encenamos o teatro do oprimido
massa de manobra, marionetes
de cabeça mergulhamos juntos
no blecaute das palavras de ordem
foi há muito tempo, escolhas
diferentes, antigos companheiros
inimigos recentes e inconciliáveis
alguns amigos perdi para sempre
nos incêndios dos ódios políticos
na escuridão das intolerâncias
houve quem morresse
sem que eu conseguisse pedir
perdão pelas bobagens ditas
outros a poesia trouxe
de volta aos meus abraços
nas asas da sua generosidade
hoje vejo o mesmo filme
passar diante dos meus olhos
estarrecidos e aterrorizados
o mesmo rio de ódio político
separando amigos, até irmãos
tragédia repetida como farsa
o mesmo rio de ódio político
onde bóia uma pequena certeza:
- não perderei amigos novamente
para selma sarraf bizon

akira - 02/06/2017.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

akira e a casa amarela no encontros literários do flama



inverno


inverno
letra: akira yamasaki
música e voz: henrique vitorino
clipe: luka magalhães
agora mais que nunca
há que sermos gentis
afetuosos e atentos
um com o outro
agora mais que nunca
há que sermos meigos
tolerantes e sensatos
um com o outro
agora mais que nunca
há que sermos sábios
pacientes e generosos
um com o outro
mais que nunca, agora
que o inverno começou
há que sermos verões
um para o outro

bala nas costas




revelo a manhã
abro e reteso o sol
estico o mar claro
do meu peito frágil
mas a bala de ódio
me atinge em cheio
sempre de noite
sempre nas costas
ouço e não escuto
vejo, não enxergo
sigo com medo
do que não sei
desato amarras
destravo trevas
sigo apavorado
pelo que não sei
(vai para para o 182º desafio poético com
imagens - IV ano, de tânia regina contreiras)


clóvis 7


clóvis 7

letra: akira yamasaki
música e voz: henrique vitorino

Dica de leitura: “OLIVEIRAS BLUES”, de Akira Yamasaki (Constructo de Alba Atróz – 17 de maio de 2017)


A voz “enletrada” de Akira Yamasaki, sem usar “hexâmetros dactílicos”, ou qualquer rebuscada métrica parnasiana, ecoou em minha alma nesta tarde – bebi suas lágrimas, senti seus lamentos, contemplei por meus pelos eriçados enquanto estava lendo. “Oliveiras Blues” é, em parte, memórias de um Getsêmai onde o poeta se retirou, buscou refúgio e, através de sua escrita, procurou afastar os seus “cale-se” advindos de traumas e revoltas de sua infância e de vida. Quando não a autobiografia de quem foi convivendo entre os bichos soltos, na vizinhança que escuta latidos de cachorros e tiros, compartilhando causos hilariantes com a gente, instigando-nos a adentrar em becos mal iluminados, clareados por seu norte, enquanto ainda estamos gargalhando, a verificar contextos e nuances profundas na fala do “Eu lírico”. Suas raízes estão fincadas na terra que ele adotou e tornou-o forte como um Anteu em contato com seu chão. Porém, ao contrário do mito grego, Akira não permanece estático, ranca-se da terra herdada sem que com isso perca força alguma; emerge de tal atitude seu poder de voar, metamorfoseado em bem-te-vis, por diversos “jardins”, sobretudo o primoroso de “hideko”, tornando-se, como bem alcunhou o também poeta e amigo João Caetano do Nascimento, “o suburbano pássaro da esperança”, sob o olhar lacrimoso da guardiã que o “observa enquanto sorve o chá fumegante”, levando suas lembranças e reminiscências ao lado dos seus singelos passarinhos e borboletas multicoloridas, equilibrando-se, “pairando entre as flores, por sobre antenas e fios do Itaim”, pra depois voltar a se fixar num lugarzinho pregresso no meio do progresso desregrado, na militância, na resistência da “Casa Amarela”, sorrindo com seus convidados, reforçando-se do que lhe é intrínseco em sua humilde pessoa que se transfigura em alta poesia.
Em seu “último distrito”, em “blue noites” periféricas, na musicalidade presente também num rico cd, composto em parceria com virtuosíssimos companheiros artistas, pelos becos do Pantanal, pelas ruas vazias como botecos às moscas, o poeta atravessa os córregos em digressões, além de Três Pontes, com baixos e guitarras, bateria e sopros, lamentando em versos o que fizeram com seus rios, com a natureza que ali existia antes. O poeta cobra, denuncia, chama-nos a atenção sobre o descaso, mas não nos deprime. Leva-nos até as divisas populosas, onde os amigos o circundam com literatura e artes, entre uma birita e outra, durante uma partida de baralho, numa pelada ou bate papo, declamando sua sensibilidade que se aflora e, tocado, de si sai virtudes, mesmo diante dos “fluxos de sangue” que escorrem pelos becos e vielas de seu amoroso e contrastado bairro. O inusitado surge de quando em quando em “oliveiras blues”, a gratidão vulnerável presente na relação com o bandido “dedo mole”, respeito e receios se misturam, no espaço da padaria “rainha do oliveiras” que o bandido, em mangas de camisa da seleção e boné do Neimar, divide com Akira junto ao balcão, pá, uma maria mole, pá, pedida pelo algoz e ao mesmo tempo vítima de amarras que o poeta busca desvelar-nos em sua requintada obra. Yamasaki vai gestuando, acenando-nos, apresentando-nos fielmente lugares emblemáticos, seus amigos artistas de alto potencial, referências de São Miguel e adjacências, como, por exemplo, o Arcanjo Sacha, o carismático seu parceiro Edvaldo Santana, num saudosismo de Raberuam que transcendeu dos limites terrenos, no companheirismo de Sueli Kimura, no apoio de Escobar Franelas, Luka Magalhães, Rosinha Morais, Enide Santos, João Caetano do Nascimento, Manogon, Mário Neves, Milton Luna, Henrique Vitorino e tantos outros sujeitos não menos importantes - eu, quanto resenhista, é que falho por não me lembrar aqui os nomes queridos -, que o alicerçam e bebem do seu sorriso e interpretam sua obra, mostrando-nos também no teatro a adaptação, dando-nos a personalização num constructo artístico emocionante, na dramaturgia, escancarando o peito e mostrando-nos as entranhas, o caráter de um "Clóvis", personagem impactante, julgado pelo ponto de vista dos disse me disse. Como alguém pode acabar sozinho, ele e sua mãe em seu velório menosprezado.
A obra é muito mais do que eu disse aqui, sei que fui limitado demais. Contudo, em diversas cenas, nas lembranças de conflitos com seu pai, dilacerando melancias, na relação com seus entes queridos que se foram de nossos limites ou que estão pertos ou distantes dele, nas notícias de partidas dos bandidos de vulgos engraçados, característicos da marginalidade, apelidos herdados em diversas situações, carregando as sucatas de Tiziu, sentindo o amor por Miyuki enquanto observa o cachorro a salivar diante de sua televisão que transmite frangos assados girando diante de seus olhos tristes a espera de pelo menos lamber o caldo que respinga da máquina da padaria; enquanto vai comendo uma coxinha e bebendo uma cachacinha no “bar do Osvaldinho”, na “viajem de Carvalho Júnior”, anunciando como quer seu Epitáfio, vislumbrado com o preço do tomate, bêbado num carrinho de pedreiro, traduzido por imagens do desenhista Punky, Akira voa livre, combinando o ontem e o hoje, entre anedotas e denúncias, tempos que mendigam debaixo dos viadutos de nossas memórias resistentes, aquecidos por mantas cinza, fruto de doação de nossos bairros explorados, herdeiros da mentirosa “Lei áurea” que aguça nossas revoltas só apaziguadas pelos abraços de nossos familiares e verdadeiros amigos, compadres e comadres, num lar aconchegante pintado de amarelo que, de coração, sempre procurou acolher a todos sob os solos harmônicos de “Oliveiras Blues”. Boa leitura.


lançamento do oliveiras blues no patuscada



lançamento do oliveiras blues no sarau da maria



lançamento do oliveiras blues na casa de farinha




lançamento do "oliveiras blues" no sarau do buzo