sexta-feira, 25 de julho de 2014

clóvis (6)


no velório do prado
um cara amado por todos
ele não tinha nenhum inimigo
o veneno escorreu solto

depois de um pai nosso
puxado por uma tia do prado
o ferreirinha pediu a palavra

já meio pra lá de zuzo bem
fez gravemente o sinal da cruz
abraçou emocionado a viúva
pigarreou e mandou ver:

- não me conformo com deus
como é que pode o prado
filho, pai e marido exemplar
morrer assim de repente
quando ainda tinha
tanta lenha pra queimar?

vinte e sete anos de empresa
nenhuma suspensão no prontuário
nenhuma advertência verbal
nenhuma falta ou atraso
seis vezes empregado do ano
um verdadeiro cú de ferro

um exame de rotina
uma notícia de repente
um câncer na próstata
e a morte de surpresa
menos de um mês depois

não me conformo mesmo
o prado neste caixão lacrado
e o clóvis, o mais desprezível
dos patifes que eu conheço
compartilhando o mesmo ar
que respiram os inocentes

akira – 25/07/2014.

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