no velório do prado um cara amado por todos ele não tinha nenhum inimigo o veneno escorreu solto
depois de um pai nosso puxado por uma tia do prado o ferreirinha pediu a palavra
já meio pra lá de zuzo bem fez gravemente o sinal da cruz abraçou emocionado a viúva pigarreou e mandou ver:
- não me conformo com deus como é que pode o prado filho, pai e marido exemplar morrer assim de repente quando ainda tinha tanta lenha pra queimar?
vinte e sete anos de empresa nenhuma suspensão no prontuário nenhuma advertência verbal nenhuma falta ou atraso seis vezes empregado do ano um verdadeiro cú de ferro
um exame de rotina uma notícia de repente um câncer na próstata e a morte de surpresa menos de um mês depois
não me conformo mesmo o prado neste caixão lacrado e o clóvis, o mais desprezível dos patifes que eu conheço compartilhando o mesmo ar que respiram os inocentes
ainda não tinha passado nem escassos quinze dias do retorno de clóvis da licença médica ao seu posto de serviço quando o supervisor da área ficou numa sinuca de bico ao protocolar um abaixo assinado com um eloquente ultimato de todos os seus funcionários verdadeira batata quente: - ou nós ou o clóvis
mas alguns dias depois clóvis recebeu uma visita de um cara do tipo sinistro que foi apresentado a todos quando já estava se despedindo: - aí, galera, peço um salve pro meu chegado dedo mole ele é do indulto de natal
era uma manhã gelada de meados de julho o vento cortava mais que navalha e naquela mesma tarde como num passe de mágica o abaixo assinado sumiu da gaveta do supervisor
embora ninguém confessasse quando clóvis voltou do afastamento devido uma licença médica é certo que todos no seu serviço no fundo tinham feito rezas espalhado sal grosso e até acendido umas velas para que ele partisse antes do devidamente combinado
uma dor lancinante no peito um infarto e uma ambulância quinze dias de uteí quatro pontes de safena e mais de oito meses na caixa quando clóvis voltou do afastamento foi recebido friamente pelos seus colegas de serviço não houve nenhum aperto de mão nenhuma palavra de boas vindas ninguém quis ver a cicatriz da cirurgia no seu peito
o peso do silencio imenso e da gelada indiferença nos ombros clóvis aguentou apenas algumas horas quando todos saiam para o almoço ele finalmente explodiu e gritou:
- seus filhos da puta de merda eu sou o inferno de vocês, sabiam? agora o inferno voltou dobrado sabiam?
os maiores poetas, estes que são da raça dos baitas, são sim pessoas simples que não empinam o nariz. domingo passado conheci pessoalmente um destes na casa amarela que eu só conhecia pela internet. um cara genial, o marcelo ribeiro, que chegou, fez um poema ali na hora e dividiu com todo mundo no sarau. ainda bem que big charlie registrou o instante exato na sua maquineta rúbia e não me deixa mentir.
Frestas do Tempo (marcelo leandro ribeiro)
Seria esperado da criança Que brincasse em terra Jogos, cavalos, o mundo em Festas entre colegas Que dividem um sonho
Tivesse terra, casa Morada certa seria A varanda recreio De onde beijaria a Lua Entre frestas do tempo
Vivessem os amigos Seriam quatro ou cinco Que correriam contra O Sol do deserto
Restasse a família Não estaria, doze anos Com uma pedra na mão Defronte a um tanque.
caráio! o lirismo pororocânico de gilberto braz escoltado pelo violão preciosíssimo de éder lima, captado pela lente temerária de carlos alberto rodrigues, o procuradíssimo assaltante de bancos big charlie.
duelo de super poetas e super musas na casa de farinha ontem. bianca velloso, mariana queiroz e adriane garcia - duelo de gigantes. aimeudeus, meu coração sexagenário que já passou do tempo das paixões mais fortes quase teve um piripaque ontem mas sobreviveu para constatar que quem venceu foi a poesia.
pessoas retorcidas pela dor raquíticas pela fome e falta desesperadas e derrotadas pessoas que perderam a fé e não conhecem a esperança pessoas assim fazem parte do universo árido e ressequido das impressionantes esculturas em madeira de euflávio goís
aconteceu que veio junto com bianca velloso, um manezinho da praia do campeche que levantou a galera do sarau da casa amarela especial na casa de farinha ontem. seu nome é paulo renato e ele é a simpatia em pessoa. ainda bem que o temível big charlie estava lá com a famigerada maquineta rúbia e registrou tudo para todo o sempre.
tenho comigo que deus é um cara realmente injusto. senão vejam adriane garcia, por exemplo, que é poeta genial e essencial, isso não discuto - é só ler seus poemas para saber, mas deus ainda tinha que que moldá-la tão doce e tão bela? deus tira de uns e dá para outros, e as águas do rio correm para o mar, fazer o que?
foi muito bom foi demais ontem imensa celebração da arte e da alegria da amizade generosa a todos que vieram registro aqui minha gratidão comovida e eterna
reta de chegada para o imperdível sarau da casa amarela especial
lançamento do cd do sarau da casa amarela - vol I
data: 18/07/2014 horário: a partir das 20h local: casa de farinha endereço: rua santa rosa de lima, 1341 (altura do nº 1832 da avenida marechal tito) são miguel paulista - são paulo
divulguem e compartilhem! e enquanto o dia 18 não chega fiquem com uma canção do cd
comadres e compadres, está confirmado: o poeta e escultor em madeira euflávio góes fará uma exposição de arte no sarau da casa amarela especial de julho
01. casa de farinha 18/07/2014, a partir das 20h rua santa rosa de lima, 1341 (altura do nº 1832 da marechal tito) são miguel paulista - são paulo
02. casa amarela
20/07/2014, a partir das 14h rua julião pereira machado, 07 (em frente ao colégio hugo takahashi, próximo à sabesp) são miguel paulista - são paulo
convidados especiais: adriane garcia e bianca velloso
venha e traga sua poesia, sua canção e sua alegria quem vier será bentivindo e quem chegar, benchegado
minhas palavras comuns e poucas estão cansadas frouxas e roucas da busca constante pela paz franzina quimera hesitante e querem desistir o quanto antes de seguir adiante
Meu nome é Akira Yamasaki e nesse espaço vou contar minhas histórias. Sou um poeta e agitador cultural nascido sob o signo maldito das insatisfações e das aflições inquietantes.
Carrego eternamente nos olhos embotados a dubiedade do meu coração inconstante e fantasmas descontentes arrastam correntes no meu noturno destino. Meu outro signo é a paixão que torna-me fraco, generoso e temente por aqueles por quem sou apaixonado.
Menino cheguei do interior do estado em 1964 na Curuçá - Itaim Paulista e desde então só tive dois endereços, a própria Curuçá e o Jardim das Oliveiras, onde moro desde 1975.
As indagas culturais entraram na minha vida em 1977 devido ao envolvimento com artistas da região de São Miguel e a fundação do Movimento Popular de Arte - o MPA, quando um rangido profundo realinhou as placas geológicas dos oceanos do meu cérebro, o tsunami pegou no tranco e comecei a escrever poesia e teatro como louco e a promover indagas como destino.
Nunca mais parei. Foi no MPA também que conheci Sueli Kimura, magra como um ramo espichado de sakura, japonesa de olhos indaquentos e inteligencia incômoda, beleza oriental de traços suaves e intrigantes. Paixão fatal e casamento.