O compositor e cantor Ceciro Cordeiro é a primeira grande atração da Casa Amarela em 2014. Ele é o convidado do 20º Sarau da Casa Amarela que ocorrerá no domingo, dia 9 de fevereiro, a partir das 15 horas. Ceciro, uma das figuras históricas do MPA, caracteriza-se por ser um compositor muito criativo, com músicas vibrantes e envolventes; Ele percorre com desenvoltura os vários gêneros musicais. As letras são outra marca registrada do cantor. Ceciro capta a realidade das ruas, dos subúrbios, da vida em geral,de forma inusitada, como se usasse uma lente que amplia, reduz e distorce essa realidade, numa visão muito particular de mundo que às vezes flerta com o surreal e com um realismo que poderíamos chamar de fantástico. Há ainda parcerias marcantes, onde ele exibe todo o seu talento ao lado de outros compositores, entre os quais, o saudoso Raberuan com quem produziu uma obra-prima, “Aparte”. Esta e muitas outras canções, além de histórias do compositor, poderão ser ouvidas por quem for até a Casa Amarela. É um programa imperdível.
AKIRA'S BLUES pro Akira Yamasaki O meu amigo Akira está blues Flutuante de blues e canto Mas não triste Todo forrado de blues na foto E vestido de um sorriso feliz Que só o Akira calçado naquele chapéu Branco calça blue jeans Agasalho azul Padaria de balcão e pastilha azul Céu claro envolto em papel de vidro azul Carros azuis na paisagem azulada Pessoas azuis nas calçadas Ao lado do Akira De azul anil cintila uma família amiga Bem blue na foto A face amarela Vermelha de felicidade Nada triste nesse amigo blue Bem vestido e contente de Akira o azul.
O PÁSSARO SUBURBANO OU DE MINHA LEITURA DO “BENTEVI, ITAIM”, DE AKIRA YAMASAKI
Akira Yamasaki publicou em agosto de 2012 o livro
de poemas “bentevi, itaim”, próximo à data em que
ele completava 60 anos de idade. A edição foi
resultado de uma ação entre amigos, tendo como principal
idealizador Sílvio Kono. Além dos poemas, o livro traz
ilustrações feitas por Heron e Will Sideralman, este é
também o responsável pela bela capa e pelo projeto
gráfico. Junto ao livro, vem ainda um CD com poemas de Akira
que foram musicados por vários compositores, tendo
Sílvio Araújo como interprete das canções. Tive o privilégio de ler os originais. Na
ocasião, li e reli cada poema, carregado de emoção e sequer
consegui expressar o que sentia. Essa emoção tinha razão
de ser. Alguns dos poemas mais antigos, eu quase vi
nascer, percebi o embrião deles a se agitar em nossas
longas conversas noites adentro, entre cerveja,
conhaque, cachaça e a insone esperança. O “bentevi, itaim” reúne “estrelas da vida
inteira”, poemas feitos em cerca de quarenta anos
dedicados à poesia, à reflexão sobre a vida, o sentido de
escrever e o compromisso com o povo brasileiro, sobretudo, os
mais desamparados. Os poemas desfilam diante de nós
numa linguagem simples, direta, às vezes coloquial,
como se fossem crônicas do cotidiano. No entanto, uma
leitura mais atenta nos levará a partilhar de voos mais
altos, à altura da águia Akira que, humilde, se apresenta
como um terno bem-te-vi.
Doze capítulos
Os poemas foram divididos em doze capítulos que
mapeiam as preocupações e os rumos do poeta. Akira
perpetra a mistura improvável de certo fatalismo “então
apenas sigo”, com a rebeldia do “não sigo por sua senda”. E
essa contradição parece tencionar toda a sua produção
poética. Nessa trilha, o adulto revê as sombras das
árvores mesclarem-se ao bailar do avô bêbado diante do
menino, num retorno, após longa diáspora, através da
memória. O velho avô reflete-se no poeta, numa imagem distorcida
de espelho partido, na pequena obra prima que é “Menino
Amarelo”. No áspero caminho, o Akira também encontra um
jardim, espaço precário de remanso, embora “o motor da
moto na rua” mostre que a realidade não dá trégua, o que nos
resta é o combate contra o mundo, pois esse jardim, mundo
de cores, abrigo de pássaros suburbanos, será também
invadido pela morte.
Pele e alma
Akira nos expõe sua pele. Mais do que isso, as
vísceras, o fundo da alma, num rasgo profundo, talhado com
precisão, à navalha. Vemos então o pobre subúrbio a sangrar
em festa, numa mistura de dor e alegria, desespero e
resistência. O poeta enlameia-se nas águas em fúria que
castigam os pobres e emudecem o bem-te-vi. E aí, temos o pungente
“Réquiem para seis córregos”, explosão de revolta, dor,
indignação e amor de quem vê e convive com a noite sem fim da
miséria. Já o poeta pai tenta transmitir à pequena prole
as lições dos pássaros, dos ventos, das vazantes e dos
mistérios da existência. Por isso, ele canta, amoroso, a
travessa fuga de Clarice. Protetor, recomenda a André a arte
ancestral da paciência e diz onde pendurar o tigre gelado da solidão.
Ele também volta o olhar para as crianças esquecidas na “noite
gelada” e questiona o próprio sentido da poesia, enquanto a infância
apodrece. O amigo poeta vai além, arrisca-se a percorrer
labirintos para talvez esquecer a herança da dor “de bar em bar,
de mesa em mesa, medos, assombrações, incerteza”, sabendo
que o tempo cicatriza, mas jamais cura. Então, desfilam
reminiscências de familiares, de amigos, de gente que passa na
rua. Nessa errância vai então se desenhando a armadilha da
existência e a necessidade de resistir. Akira é, sobretudo, um
poeta de resistência. Resistência à injustiça, à dor e ao
fatalismo que o dilacera. Há quase trinta e cinco anos, quando conheci o
poeta, seus versos tiveram sobre mim a força de um murro. Senti,
desde o início, uma súbita afinidade com o universo tempestuoso
daquele japonês sisudo. O tempo passou, o poeta tornou-se mais
refinado, profundo e, ao mesmo tempo, mais simples. Outra
dessas contradições que tornam os poemas de Akira tão
encantadores e inquietantes.Sob a cortina da simplicidade, está uma poesia intensa, nascida da busca constante de uma
concepção de mundo e do sentido do fazer poético. Ao final da leitura
do livro, fica o gosto amargo da esperança, da coragem diante da dor
inevitável que devemos lutar para evitar. Desobediência e
fatalismo. Esses são ingredientes que fazem um grande poeta.
Portanto, ouso dizer: Akira Yamasaki é um grande poeta e “bentevi,
Itaim” é um livro estupendo.
Serviço bentevi,iItaim 162 páginas Formato 16 x 16,5 cm. CD – 12 músicas R$ 23,00 Pedidos e maiores detalhes no face do Akira Yamasaki.
boralá em dois mil e catorze parir duas ou três esperanças meia dúzia de palavras maiores e na justa medida do possível se não for pedir em demasia ficar perto dos meus amigos
Meu nome é Akira Yamasaki e nesse espaço vou contar minhas histórias. Sou um poeta e agitador cultural nascido sob o signo maldito das insatisfações e das aflições inquietantes.
Carrego eternamente nos olhos embotados a dubiedade do meu coração inconstante e fantasmas descontentes arrastam correntes no meu noturno destino. Meu outro signo é a paixão que torna-me fraco, generoso e temente por aqueles por quem sou apaixonado.
Menino cheguei do interior do estado em 1964 na Curuçá - Itaim Paulista e desde então só tive dois endereços, a própria Curuçá e o Jardim das Oliveiras, onde moro desde 1975.
As indagas culturais entraram na minha vida em 1977 devido ao envolvimento com artistas da região de São Miguel e a fundação do Movimento Popular de Arte - o MPA, quando um rangido profundo realinhou as placas geológicas dos oceanos do meu cérebro, o tsunami pegou no tranco e comecei a escrever poesia e teatro como louco e a promover indagas como destino.
Nunca mais parei. Foi no MPA também que conheci Sueli Kimura, magra como um ramo espichado de sakura, japonesa de olhos indaquentos e inteligencia incômoda, beleza oriental de traços suaves e intrigantes. Paixão fatal e casamento.