segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
uma comovente resenha de joão caetano sobre o blablablá do mpa
Nós, o MPA e os velhos corações juvenis.
A Casa Amarela promoveu um encontro histórico no sábado, dia
23 de novembro, quando debateu a experiência do Movimento
Popular de Arte, tendo como expositores Edvaldo Santana,
Edson Tomas de Lima Filho e Gilberto Nascimento. Foram cerca
de quatro horas de reminiscências, mas, sobretudo de avaliação
desse movimento que foi um turbilhão na vida dos que dele
participamos, e cuja influência ainda é sentida hoje, trinta e cinco
anos depois de seu surgimento e há vinte anos de seu término.
Edvaldo e Edson resgataram a origem do MPA, a partir de uma
pesquisa feita por dois antropólogos, que resultou numa exposição
artística na capela de São Miguel, embrião do movimento que
reuniu cantores, músicos, poetas, artistas plásticos, atores, enfim,
um mundo de gente que buscava um espaço para divulgar suas
criações, num tempo de cerceamento da liberdade imposto pela
ditadura militar. O MPA já nasceu como um movimento de
resistência à indústria cultural e, desde seu início, vinculado aos
muitos movimentos sociais que explodiam na região.
Santa Loucura
Nós vivemos a santa loucura daqueles tempos de mudanças no
cenário político, em que as diferentes concepções dentro dos
movimentos e da luta social começaram a vir à tona. O novo
cenário afetou também o MPA, aflorou suas divergências internas,
mas ele se manteve por um bom tempo, até que se esgotou e
terminou.
O debate trouxe à tona um pouco do que havia de ingênuo em
nossas posturas de jovens a investir com fúria contra moinhos de
ventos ou contra forças muito mais reais. Nestes tempos de tanto
pragmatismo político, a lembrança do purismo de nossas atitudes
naquela época foi uma janela aberta para que entrasse um pouco
de ar puro.
Ao final, ficou a certeza de que essa experiência não pode se
perder. Uma das propostas surgidas foi a de resgatar o que há de
registros das atividades, fotos, filmes, documentos, etc., tendo
claro que a maioria desses materiais perdeu-se no tempo. Talvez a
criação de um centro unificado de documentação. Quem sabe até,
ouso propor, o registro dessas experiências na forma mais perene
de um livro.
No debate surgiu uma indagação: até que ponto essa nossa
experiência tem validade para as novas gerações? Cada geração
vive o seu momento, comete os próprios erros e acertos. Foi
assim com a nossa geração – e de uma forma mais radical- pois
vivíamos em plena ditadura. No entanto, muitos de nós, em dado
momento sentiu a necessidade de olhar para trás, para não repetir
os velhos erros ou mesmo para renegar com mais convicção tudo o
que foi feito antes.
Muitos das novas gerações, em dado momento, irão se interessar
por essa trilha. É nossa obrigação deixarmos o mapa do caminho,
para não sermos omissos.
O interesse no debate pauta a Casa Amarela a promover novos
encontros, procurando trazer à tona as diferentes opiniões que
permearam o MPA e que não eram meras divergências partidárias,
pensar assim seria rebaixar o debate. São, na verdade, diferentes
visões estratégicas do Brasil - como ficou claro no debate- e que,
portanto, levavam a táticas diferenciadas.
Hoje todos têm, eu creio, condições de encarar sem traumas esse
debate que é importante para situar o MPA em seu momento
histórico e trazer um pouco da luz do movimento, que era imensa
naqueles tempos sombrios, para hoje.
João Caetano do Nascimento - 24/11/2013.
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