quarta-feira, 31 de julho de 2013

16º Sarau da casa amarela, com Alessandro Buzo


Tsutae (7)


pássaro bêbado
de olhos avermelhados
voei febril à tua procura
na caverna úmida da noite
atormentada e escura

anjo despedaçado
com asas de clausuras
sobrevoei velozmente
o céu do tietê coalhado
de reinos de amarguras

do itaim a guarulhos
atravessei dilacerado
imundos covis de loucuras
habitados por demônios
que brandiam faturas

pássaro cancerígeno
agonizado por mil torturas
sentiste na hora última
a minha mão na tua
rude, áspera e impura?

akira – 29/07/2013.

Jardim de Hideko (12)


dores lancinantes nos joelhos
bolas de bilhar nos cotovelos
gotejam ácidos nos tornozelos

a hiena da insanidade rosna
rastros de geadas e gosma
no jardim dos meus cabelos

akira – 28/07/2013.

Pássaro cigano, vídeo de Allan Régis


o meu compadre allan régis, grande poeta e 
escritor, gravou uma participação minha no 
sarau do buzo, o suburbano convicto e me 
enviou num gesto de carinho e afeto que me
deixou comovido. obrigado, allan.

Jardim de Hideko (11)


no jardim de hideko
à geada indiferentes
marias sem vergonha
e azaléias escoltadas
por ariscas ciclanes
vestidas e travestidas
de molestons amarelos
erraram de estação
e fingem primaveras

akira – 27/07/2013.

Miyuki (16) / Pássaro cigano, vídeo de Jose Vicente de Lima

Faço aqui e agora a minha homenagem ao casal Eder 
Lima e Lígia Regina, dois grandes amigos, dois grandes 
artistas, a quem conheço desde os velhos tempos do 
Movimento Popular de Arte. Eles estiveram em minha 
casa há poucos dias, numa visita rápida e também 
receberam uma justa homenagem num belo texto do 
jornalista e poeta João Caetano. Faltava um vídeo para 
completar. Não falta mais. Gravei essa música na Casa 
Amarela no dia 15 de junho desse ano. Outros dois 
grandes amigos pegam carona. O poeta Akira Yamasaki, 
que dispensa comentários e o músico Sílvio de Araújo, 
que ajudou a dar brilho à interpretação da música 
Pássaro Cigano, principal conteúdo desse video. 
Apreciem. Zé Vicente 24.07.2013


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Choro de criança

essa noite ouví
um choro de criança
em algum lugar

fui lá fora
mas não vi ninguém na rua
ninguém na noite fria

então quando distraí
ouvi de novo a criança:

- era eu chorando alto
em algum lugar bem fundo
do silencio de mim

Clausura

já faz alguns dias
meus versos estão fechados
para balanços e auditorias
dentro de suas pedras
de retiros e clausuras
e de repente tenho medo
que não voltem para mim

já faz alguns dias
meus versos insatisfeitos
e hostis consigo mesmo
querem quebrar com dentes
de retiros e clausuras
cascas de sementes
de novos amanhãs

akira – 22/07/2013.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Domingos


se for ler um poema
de domingos barroso
prepare-se para nunca mais
ser o mesmo de antes

akira – 18/07/2013.

Assis Freitas


conheci a poesia genial e o lirismo poderoso
de assis freitas em março de 2012 quando
entrei pela primeira vez no seu blog, o “mil
e um poemas” e lembro até hoje o número
do poema – 887, e o nome, “partita de
entrega para girassóis e lilases III”, e foi
como se eu tivesse sido vítima naquele dia,
de um intenso encantamento. transcrevo o
poema:

“887 – partita de entrega para girassóis e
lilases III

tinhas o sabor das romãs nas mãos
quando me elevei em tuas nuvens
e percorri exangue esta nua pele
nos teus apegos e nos teus lilases

tu me vinhas embevecida de magia
como rota sutil para o alumbramento
tinhas o perfume da manhã no lábio
e o atrevimento do desejo a arrebatar

tinhas o sabor das romãs nas mãos
vinhas palavras, gestos e correnteza
vinhas como norte para os girassóis
e o teu corpo era sorriso e alvíssaras”.

fiquei emocionado com assis e tão intimidado
com seu lirismo comovente que comecei a
seguir o seu blog rezando para que nunca
chegasse ao fatídico poema 1001, ou que se
chegasse, pulasse direto do 1000 para o 1002
para não romper o alumbramento construído.
tão intimidado como fico com angela vilma,
com marco cremasco, com francisco xavier,
com marcantonio, com zélia guardiano, com
domingos barroso, com joão caetano ou com
outros picasgrossas da poesia que vejo pelo
facebook afora, tipo numa relação “mestre e
gafanhoto no seriado kung fu" e que, verdade
seja dita, nunca ousei postar um comentário
no 1001 poemas. depois o tempo foi passando
e pude conhecer melhor o assis pelo facebook
que foi perdendo aos poucos aquela imagem
de poeta inatingível para mim, o face tem disso
também, mas sem nunca perder de vista o
imenso respeito e, confesso, até algum temor
por sua arte maior. até que há alguns dias
atrás o assis me perguntou se um poema
postado por mim naquele dia já tinha música e
eu respondi que não, que estava esperando um
doido fazer um blues para, quem sabe a gente
ganhar uma boa grana com isso e ele me então
me respondeu que não sabia se ia render uns
trocos mas que tinha feito um meio blues com
meu poema e me mandou um arquivo da canção.
dizer que fiquei comovido e honrado é pouco, na
verdade assis provocou em mim um segundo
encantamento do tipo, voce viu?, meu mestre
musicou um poema meu. akira – 17/07/2013.

“o sonho de cada um

música: assis freitas
letra: akira yamasaki

oh baby, então
o espelho não espera
a vida é tão curta
o caminho é longo
as pedras são muitas

oh baby, então
a palavra é flecha
a mentira é curva
o arco-iris se alonga
e a verdade turva

oh baby, então
o sonho de cada um
não deve ser escasso
mas não pode exceder
o alcance do seu passo”


 

Laura


quando me olham assim
esses olhos de laura kim
pássaros acordam
dentro de mim

akira – 17/07/2013.

Hospício cultural

 
aqui se alastram
novas primaveras
fagulha, incêndios

aqui se alastram
vírus de rebeliões
antigas epidemias

aqui se alastram
estopins e rastilhos
de generosidades

aqui se alastram
ancestrais labaredas
de novas liberdades

akira – 16/07/2013.
(para os poetas
meninos e meninas
do hospício cultural)

terça-feira, 16 de julho de 2013

Aconteceu no 15º Sarau da Casa Amarela (2)

no 15º sarau da casa amarela, joão caetano comove
a todos os presentes falando um poema emocionante,
momento captado pela lente esperta de big charlie.

Aconteceu no 15º Sarau da Casa Amarela

Armadilhas

Música: Éder Vicente
Letra: João Caetano do Nascimento
Voz: Lígia Regina

Meu coração às vezes se assemelha
A um corcel selvagem em pleno trote
Que busca fulgor distante, centelha,
Sonho que o açoita feito um chicote.

Meu coração cumpre em regra sua sina
De buscar aquilo que não se alcança
E quanto mais o impossível o fascina
Com mais ardor ao desafio se lança.

Meu coração tem jeito de criança
Que está perdida na selva do engano
Mas ainda cultiva a flor da esperança
De resgatar o sentido do humano.

Meu coração vive eterno castigo
De morrer enredado nesse jogo
Onde ele enfrenta tantos perigos
E cada vitória é sempre um logro

Meu coração sofre fatal doença
O brincar nas armadilhas da arte
Por ela o drama da vida compensa
E minha ilusão sem fim se reparte.

30/05/2013 – João Caetano.

João Caetano

os olhos do poeta são tímidos
frágeis, eu diria quase infantis
mas lá na suas profundezas
cintila severa a dureza do aço
áspera vontade que não verga

a voz do poeta é doce e mansa
é a mais gentil voz que já ouvi
pássaro de comovente ternura
promove ventos, encantamento
e abranda o coração mais rude

akira – 15/07/2013.

15º Sarau da Casa Amarela, por Gilberto Braz

Um Caleidoscópio feito em palavras

Poema quando é bom, daqueles muito bons mesmo, a
gente sente nos pelos do braço. A poesia de João
Caetano do Nascimento é populada com poemas desta
espécie. Poemas vivos, que encantam, que revelam,
incomodam, que calam e emocionam. Poemas que ele
desfiou ao microfone do Sarau da Casa Amarela no
domingo, 14 de julho. E não foi fácil segurar a emoção
com a intensidade e densidade das palavras, dos versos
encadeados em ritmo envolvente: uma magia de
sucessivos encantamentos que nos deixou a todos, Akira
Yamasaki, Inês Santos, Arnaldo B. Rosário, Eder Lima ,
Ligia Regina, Gildo Passos, Ronaldo Ferro Ferro,
Veronica Lopes, e demais presentes como que paralisados
diante da sucessão de imagens que transbordando em cada
estrofe nos remetia a todos os tempos: passado, presente,
futuro, num mergulho interior rumo ao que é essencial.
Fascinados nós estávamos por um caleidoscópio chamado
João Caetano do Nascimento.

Gilberto Braz - 15/07/2013.

15º Sarau da Casa Amarela, por Luka Magalhães

João Caetano do Nascimento, poeta e tímido, com uma
obra repleta de memórias, conseguiu ser reencontrado e
proporcionou uma tarde emocionante para um grupo de
privilegiados no Sarau da Casa Amarela.
Privilegiados sim, pois o sentimento nas poesias de João
Caetano aflorou emoções antes escondidas ou esquecidas
pelo tempo. Tivemos um review dos ideais do MPA, a
recordação daqueles que já partiram e ...as amizades que
sempre existiram, mesmo que à distância.
Uma frase de João Caetano foi o êxtase ao Sarau, quando
ele relembrou do período de transição entre a ditadura e a
democracia de hoje dizendo: “Acreditamos que iríamos
fazer a revolução em uma semana. Melhor que seja até
sexta-feira, para podermos descansar no final de semana”.
Mesmo em um período conturbado, era possível se fazer
rir, com frases simples.
Foi ao mesmo tempo, aula de poesia, de história, de
política e de amizades que se perpetuaram no tempo.
Se “recordar é viver”, tivemos uma vida eterna no Sarau
da Casa Amarela.
 
Luka Magalhães - 15/07/2013.
 

Miko

já estava corcunda
um monstrengo, a tia
da última vez que a vi

fiquei em dúvida se devido
às duas hemodiálises semanais
ou à vida inteira debruçada
na overloque da elgin

akira – 12/07/2013.

Dor doméstica

a dor ensina
a bola de nojo
na boca do estômago

a dor educa
febre, cólera e pus
no covil da infecção

a dor domestica
o berro desumano
nos dentes do silêncio

akira – 11/07/2013.

Canção pequena

canção pequena
 
música: edvaldo santana
letra: akira yamasaki
vózes: titane e edvaldo santana
 
não sei porque mas 1979 foi fóda em são miguel pta,
quando na explosão e efervescência do nascimento
do movimento popular de arte - o mpa, ocorreu um
verdadeiro tsunami de surgimentos de canções,
poemas, textos de teatro, obras de artes plásticas e
parcerias as mais inusitadas, no bairro, que nasciam
sem controle nos becos, bocas e sob as árvores
generosas da praça padre aleixo, a praça do forró que
as "elites" do bairro mancomunadas com a igreja local
teimam em empurrar para debaixo do tapete imundo e
conveniente da história.
1979 foi também o ano do nascimento do grupo de
teatro "periferida" (nome de uma canção de edvaldo) e
do espetáculo "cançao pequena para ninar um menino
morto", que por força da repetição acabou ficando
simplesmente "canção pequena".
tenho o maior orgulho de ter participado do "periferida"
e de ter dividido a autoria dessa canção com edvaldo.
salve, edvaldo santana, salve titane, salve, salve, luiz
waack .
 
akira - 11/07/2013.

Brega

não perca seu tempo
só me deixe terminar
meu conhaque em paz

não me olhe desse jeito
de quem vai se apaixonar
perdidamente por mim

inverno de avaro sol
carros flex descarregam
largos cheiros de etanol

akira – 23/06/2013.

Rendição

tô muito cansado
dentro da cabeça
a ponto de desistir
e entregar o ponto
por qualquer preço

abrir mão do crachá
depositar as armas
... devolver o armário
assinar a rendição
e ir para casa a pé

hoje eu só queria
um pedaço de chão
uma água no meio
um destino pequeno
e um dedo de paz

akira – 07/07/2013

domingo, 7 de julho de 2013

Medidas



ante qualquer medida
de tempo ou de espaço
urgências ou distâncias
meu coração desnorteia

um metro, um milênio
não importa a grandeza
um segundo, um ano luz
uma noite de lua cheia

akira – 05/07/2013.

15º Sarau da Casa Amarela, com João Caetano


um nóia já ancião
e dez homem de fé
disputam territórios
no marco zero da sé

pútrida a noite descai
fedem na praça da sé
três cheiros seculares
mijo, bosta e chulé

akira – 04/07/2013.

Vira-latas

sou um vira-latas
moro num beco
de sonhos caídos
e sinas perdidas

não tenho nada
e minha riqueza
são meus amigos
de sortes e fados

akira – 02/07/2013.