sexta-feira, 27 de maio de 2011

Poesia às nove da manhã

Fomos convidados, eu e Raberuan, para abrir com uma interferencia poético/musical, o IV Encontro de Cultura e Sustentabilidade, da Fundação Tide Setúbal, realizado no dia 20/05/2011, sexta-feira, no CDC Tide Setúbal em São Miguel Paulista, que nesse ano discutiu o tema “Economia Criativa – Desafios e Rupturas para Construção de Uma Cidade Sustentável”.
Poesia às nove da manhã para uma platéia de cerca de 100 pessoas, constituida pela elite cultural e  política do bairro, artistas e produtores culturais, políticos e politiqueiros, representantes de entidades, associações e igrejas, jornalistas, professores, estudiosos, profissionais liberais e enfim, formadores de opinião em geral.
Raberuan e eu disparamos canções e poemas de nossa autoria falando das mazelas do nosso cotidiano, dores, amores, derrotas e esperanças de cada dia que passa, e o feed back que tivemos foi o silencio mais comovente e completo que ouvi na minha vida, seguido dos aplausos de pé.
Na mesma sexta à noite, uma nova presepada, dessa vez com o reforço valioso de Gilberto Braz, no outro extremo da cidade, para uma platéia completamente diferente – uma festa/confraternização dos empregados do Pátio de Manutenção do Metrô em Jabaquara.
Cerca de 150 pessoas entre mecânicos, eletricistas, técnicos de manutenção, seguranças, engenheiros e enfim, o chão da fábrica regado a muita cerveja, som ruim e samba de roda, e tudo que ouvi durante a nossa apresentação foi o mesmo silencio comovido e respeitoso da manhã.
Eu já ouvira esse silencio antes. Foi há uma semana atrás em Itaquera, uma apresentação num evento para arrecadação de agasalhos, com motoclubistas e rock and roll pauleira.

Akira Yamasaki – 24/05/2011.


Cesar Baiano especial


SARAU DA CASA AMARELA
AÇÃO ENTRE AMIGOS NO BAR DO WLAD

Pessoal

Curto e grosso é o seguinte: o próximo Sarau da Casa Amarela será excepcionalmente realizado no dia 05/06/2011 - domingo, às 17h, no Bar do Wlad, no centro de Ermelino Matarazzo, na Rua Kobee Kumagai com Miguel Rachid. E haverá cobrança de ingresso no valor de R$10,00 (dez reais).
Todos já devem ter tomado conhecimento das dificuldades que o nosso amigo Cesar Baiano, figura essencial no movimento cultural e social na região de São Miguel há mais de 30 anos, está enfrentando. A verdade é que ele está na pior mesmo, inclusive, na UTI do Hospital Santa Marcelina, para onde veio removido há alguns dias do Nordeste. Afora a dor e preocupação pela saúde do amigo, por conta de gastos com médicos, hospitais, remédios e traslados em UTI especial, a familia do Cesar está com um rombo de R$53.000,00.
Curto e grosso é isso: hora de arregaçar as mangas da solidariedade. Peço aos amigos para que apareçam no Bar do Wlad no dia 05/06, onde poderemos até discutir novas formas de mobilização.

Raberuan
Gilberto Braz
Sacha Arcanjo
Claudemir Santos
Akira Yamasaki.

domingo, 22 de maio de 2011

Ivan Neris, ecos do Sarau da Casa Amarela ainda

a minha tese é que o meu amigo ivan neris não passa de um esperto farsante, um arisco poeta de mil carapaças e um certeiro atirador de artimanhas e carapuças que se esconde atrás de dezenas de muralhas e couraças, e digo mais, ele é um zagueiro de muita técnica que de primeira passa e sai jogando de cabeça erguida, mas quando necessário não tem escrúpulos de usar recursos de engodos e trapaças;

a minha tese é que ivan é uma construção de mil personagens de si mesmo, só descobri no sarau da casa amarela, quando ele abriu o seu coração e despedaçou a sua alma de vários ivans a dois metros de distancia da platéia estatelada, cada ivan mais verdadeiro que o outro, cada um mais incômodo que o outro, disparando saraivadas de poemas inquietantes que obrigavam todos a se remexer desconfortáveis nas cadeiras;

a minha tese é que os versos de ivan são de difícil digestão e causam desconforto como se avisassem que há algo errado nessa mesa de cozinha, que um soco é iminente na boca desse estômago, que um choque eletrico virá por esse chuveiro, que um cheiro ruim voltará desse bueiro, que um passarinho cagará nessa cabeça, que uma réstia de luz invadirá esse covil de renegados e que uma flor nascerá nesse antro mal frequentado;

a minha tese é que quando todas as artimanhas e trapaças foram descobertas, e quando as carapuças e carapaças cairam no chão dos engodos, incinerados pelo fogo da verdade e lirismo da sua poesia, e quando o seu peito se desnudou das couraças e coletes à prova de balas, e quando todos os ivans se desmancharam como bolhas de sabão no seu coração de ivan;
a minha tese é que nesse momento só restou o menino ivan neris com seu pé quebrado na madrugada incerta do sarau da casa amarela.

akira yamasaki – 17/05/2011.

a seguir, “maria e raimundo”, parceria de Ivan Neris com Tarcisio Hayashi, japa paraguaio, poeta e compositor genial dessa zona leste é nóis, onde os poetas nascem como erva daninha, captada pela mini-portátil de carlos alberto rodrigues.

sábado, 21 de maio de 2011

Bentevi, Itaim

Raberuan no Sarau da Casa Amarela

O meu amigo Carlos Alberto Rodrigues, o poeta Big Charles, bonachão e big poeta, adquiriu a prestações a perder de vista, uma câmera de vídeo, dessas pequeninas que cabem na concha da mão e desandou a filmar e registrar os eventos culturais realizados pelos amigos. Ele endoidou mesmo, onde estiver acontecendo um evento, lá está ele xeretando e capturando momentos e acontecimentos na gaiola da sua mini-portátil e libertando-os para a posteridade.
Fuçador, curioso e estudioso como só o Big Charles, ele ainda está naquela fase de planos parados, aos poucos ele vai aprendendo a dominar o seu novo brinquedo e não duvido que logo, logo, ele estará produzindo os seus vídeos com competencia e qualidade.
Na sexta-feira - 13/05/2011, ele atravessou a cidade na hora do pico e apareceu no Sarau da Casa Amarela onde  registrou alguns momentos do evento que vou postar nesse espaço, ao sabor das possibilidades e oportunidades. O primeiro deles é do meu chapa Raberuan cantando "Bentevi, Itaim", com música de Raberuan e letra de Akira Yamasaki.
Akira - 21/05/2011.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Ivan Neris, por Escobar Franelas: 2º Sarau da Casa Amarela

Horas, minutos e segundos do segundo Sarau da Casa Amarela

Querido diário, eis-me aqui, sem saber o que falar. Dia 13, o dia em que se lembrava os 123 anos em que a princesa Isabel assinara o termo de retirada dos negros das senzalas, a Casa Amarela teve a segunda epifania poética na região do Pedroso, em São Miguel. E o gozo foi tanto, e tão intenso, que foge-me daqui a palavra certa. Em dúvida, vou escrevendo, na tentativa meio vã de explicar o prazer inexplicável.
Se na primeira edição do Sarau da Casa Amarela, no último primeiro de abril, a catarse coletiva teve como mestre de cerimônia o poeta Akira Yamasaki acompanhado do violão e da voz de Raberuan, dessa vez o violonista descerrou sozinho a cortina da espera, abrindo o espetáculo num atacadão de canções inspiradas.
Lembrando esses velhos e simpáticos crooners de formatura, o nosso Tião sabe tudo de microfone no palco e violão em som maior. Destila encanto com sua poesia veemente, a voz sem falsetes, o dedilhado certo. Certeiro, inoculou veneno nos sentidos de todos, em todos os sentidos, dando-nos de brinde um prazer intuitivo. Só depois, quando já estávamos devidamente siderados pela sua voz maviosa, é que chamou para si uma outra condição, a responsabilidade de condutor de orquestra. Convidou então uma horda de convivas para que abrilhantassem também a noite, e que servissem ao público poesias como aperitivos embriagantes. Poemas de cores várias, sabores diversos, texturas inéditas e cheiros inovadores, desfilaram para uma platéia pequena, mas ouvinte acurada.
Até que Ivan Néris, garçom-mór, brindasse-nos com sua poesia destilada no fogo excelso da paixão e da contemplação. O poeta (que também é ator, compositor e dramaturgo) é proprietário inconteste de textos diversos, carregados de lirismo, com um pé fincado no barroco e outro no mundo contemporâneo. Tem linguajar e traquejo clássico, respirando ares urbanos do século XXI.
A platéia, atrevida, dispôs-se a participar das iguarias com perguntas cheias de tempero. Questionamentos surgiram, curiosidades foram saciadas, o palco, dividido com novos e velhos parceiros. E a noite esgueirava-se linda, entre poemas inspirados, leituras envolventes e conversa maneira. Nada de papo-cabeça sub-reptício, o negócio ali era fruição, simples e exata.
Lá pelas tantas, de repente Akira levanta-se, pede desculpas para lembrar a todos que era hora de zarpar. Olho no relógio, onze e tralalá, quase madrugada. O gosto sinestésico do prazer de mais uma noite delirante ficou impregnado nas vestes, nas palavras, no trato e no tato, nos gestos de carinho entre todos que se despediam, trocavam telefones, e-mails e abraços. O show tinha acabado, mas A Casa Amarela não fechava. Só quando já era sábado que, vestidos de simancol, fomos saindo na direção do sono. Sonhos.
Sábado amanheci ressacado de saudades.

Escobar Franelas

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Buraco d'Oráculo na Cidade Nova São Miguel


"buraco d’oráculo

se o coração ainda
indaga e se indigna
a cabeça não empoça
não mofa nem estagna
se o olho ao alvo mira
e clara reluz a sina
cumpre-se à mão cega
destino que se designa

akira - 30/12/2009."

15/05/2011 – domingo. Terceira apresentação de uma série de seis, do Projeto Re-Praça, do Buraco d’Oráculo na Cidade Nova São Miguel. A primeira tinha acontecido na sexta – 13/05/2011 e a segunda, no sábado – 14/03/2011, e quer dizer, tudo começou sob os auspícios da sexta 13.
14h30 mais ou menos. Rua Ida Vanucci Puntel na Cidade Nova São Miguel, uma rua como outra qualquer na zona leste da capital. O sol se esconde atrás de nuvens escuras e ameaçadoras e por via das dúvidas coloco uma boina azul que ganhei de presente de um índio véio no sertão de Irecê – Ba, terra de Sacha Arcanjo, para atrasar a chuva iminente.
14h30, o Buraco começa a se preparar para apresentar o “ A farsa do Bom Enganador”, espetáculo do seu repertório de magias que faz parte da caixinha de surpresas com que encanta as periferias de Sampa e as praças do Brasil há muito tempo, desconfio que há mais de dez anos, ou há mais dez mil anos atrás, segundo o velho Raul Seixas.
A criançada não se faz de rogada, afinal já é o terceiro dia de encantos e fantasias observando os integrantes do “Buraco” retirar coelhos das cartolas diante dos seus olhos arregalados. Já é o terceiro dia e elas estão íntimas da trupe e fazem parte do roteiro, ajudam a montar o cenário, carregam as tranqueiras do “Buraco” pra lá e pra cá, batucam nos seus instrumentos de percussão e fazem a maior festa quando eles começam a se maquiar, os olhos arregalados nos enchimentos dos enormes peitões e bunda descomunal  da principal personagem feminina da trama.
Quando Johny, um dos atores da trupe, senta-se no meio da platéia para caracterizar o seu personagem com bases, batons, sombras, lápis e figurinos exagerados, mil olhos incrédulos de crianças se aproximam e inventam futuros e perplexidades. Espantos e fantasias.
16h. É final de Campeonato Paulista, Corinthians e Santos na decisão e rojões comendo solto de minuto a minuto, não se fala em outra coisa em São Paulo. 16h e Sílvio Santos distribui dinheiro a torto e a direito no seu baú de felicidades. 16h e quase podemos tocar com as mãos as nuvens carregadas de chuva, de tão perto que elas estão.
16h e começa o “A Farsa do Bom Enganador” com casa, digo, rua cheia. Tem Santos x Corinthians e Sílvio Santos na televisão, além da ameaça de chuva no céu, mas o povo começa a chegar das casas simples do entorno, crianças aos bandos, homens e mulheres rindo feito crianças das peripécias teatrais do Buraco d’Oráculo.
Ninguém arredou pé nem quando choveu.
Cidade Nova nunca mais será a mesma.

Akira – 16/05/2011.



sábado, 14 de maio de 2011

Um pé no cotidiano de novo


Motoclubismo, poesia, rock e solidariedade

Juntamos novamente a trupe do “Um pé no cotidiano”, só faltou o compadre Cléston Teixeira, para uma presepada poético-musical. Foi na última sexta-feira, 06/05/11, no Metroclube Itaquera.
Lá estávamos nós de novo correndo perigo no palco inseguro das dependencias mútuas, nem parecia que o tempo tinha passado. Gilberto Braz, Raberuan e eu rascunhamos alguns quadros inseguros, a poesia é destino e insegurança, com alguns poemas e canções de nossa autoria e passamos umas duas vezes para testar se dava liga ainda e para sentir se era possível recuperar o prazer, a eletricidade e o frio na barriga antes de subir na corda bamba.
Deu liga sim, duas passadas foram suficientes para derreter a ferrugem e pegar um pouco de confiança, mas como não havia tempo para nenhuma carpintaria tivemos que pegar no tranco. O evento em questão era um encontro de tres motoclubes de metroviários para promover uma causa nobre, a campanha do agasalho de 2011.
Gente saindo pelo ladrão na festa, todos devidamente caracterizados no melhor estilo easy rider e liberdade desmanchando os nossos cabelos e embalados por bandas de rock’n roll, cada uma tocando mais pesado e nervoso que a outra, os grandes clássicos do rock de todos os tempos. Já passava da meia noite quando subimos sob olhares desconfiados e narizes torcidos daquele povo de blusões de couro, botas de cano alto e tatuagens espalhadas pelos braços e por onde as peles fossem visíveis.
Lá estávamos nós de novo, Raberuan sentando os dedos no seu negro Yamaha de pescoço fino e eu e Gilberto Braz soltando o verbo e libertando os adjetivos, e então o burburinho foi cessando, narizes se destorcendo e um silencio foi baixando, um silencio de se ouvir um vôo de mosca, amplificado pelas caixas de som.
Sentamos as vozes sem dó e então baixou a velha magia de sempre. A velha eletricidade arrepiante e anestesiante que só aparece quando o “Um pé no cotidiano” está no palco, respondeu presente durante a meia hora de poesia total e espantos supensos e eternizados nos olhos descrentes e nas bocas abertas que durou a nossa interferencia.
Quando terminou quase afogamos no tsunami de abraços e aplausos intermináveis, tantos que quase não consigo segurar as lágrimas. Foi por pouco.

Akira – 08/05/2011.