domingo, 27 de fevereiro de 2011

Meus poetas preferidos (17)

heron alcântara

conheci o heron em 2004 durante as gravações do cd
“tião” do raberuan, no seu bairro, o jardim arizona -
periferia de itaquá, onde na época o bicho pegava
mesmo, ruas de terra, esgoto a céu aberto, violencia
cotidiana, e faltava escola, segurança, equipamentos
de saúde, lazer e cultura e, principalmente, futuro.

conheci o heron, menino de olhos espertos e curiosos,
com uma grande descaida para as coisas das artes,
tinha jeito para a pintura, escultura, música e vivia
sempre por perto querendo saber, perguntando e
devorando tudo que eu soubesse e tivesse sobre
literatura, mpb e artes plásticas, ele tinha uma fome
sem freio e sem fundo;

terminado o cd do raberuan perdi um pouco o contato
com o heron mas sempre tinha notícias suas, um
show musical aqui, uma exposição ali e dias atrás tive
a grata surpresa de receber alguns versos seus, no
pique e na atmosfera pesada do jardim arizona,
versos onde me reconheci na minha infância distante,
na vila curuçá.

akira – 27/02/2011.
Novas velhas coisas

Novas coisas para velhas coisas
Novas letras para velhas livros
Novas idéias para velhos projetos
Novos riscos para velhos papéis.

Novos amigos para velhas amizades
Velhas amizades para novos amigos.

Nova vida para um novo Deus.
Nova terra para um velho povo.

Novos poemas para velhos poetas.
Novas canções para velhas rimas.
Novas frases para velhos pára-choques.

Meu rapaz

Se oriente meu rapaz
Antes que se arrependa
Se oriente meu rapaz
Antes de olhar para traz.

Se oriente meu rapaz
Quando olhar para as estrelas
E ver que elas não brilham mais.

Se orienta meu rapaz
Quando ver a água
E não poder beber mais.

HERON ALCÂNTARA

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Batendo a laje da garagem

 o cimento que realiza
a liga de concreto
das lajes das nossas casas
chama-se amizade
a vida é o porque
e o método, mutirão

obrigado, claudionor
kenji e os dois andrés
scala, careca e banguinha
obrigado ao seu mané
e ao alemão também
sem esquecer o josé
à alaíde pela feijoada
e dona maria pelo café.

akira - 26/02/2011.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Enseada de Itapacoróia

muito cedo ainda, a casa da enseada de itapacoróia,
de paredes caiadas e sem acabamento ou pintura, de
cômodos grandes e ensolarados, e com um jardim
desordenado e caótico na frente, virou um brinquedo
pequeno e monótono para clarice e mal suas asas
cresceram, ela escapou para a rua, pelo vão da grade
enferrujada da janela da sala;

nem uma semana se passou, a enseada de itapacoróia,
com suas casas cinzentas e pássaros sem memória,
suas raras árvores agarradas desesperadamente aos
seus ínfimos quadrados de terra delimitados nas
calçadas pela prefeitura, e suas crianças trancadas
dentro de casa, também virou um brinquedo sem
graça alguma;

alguns dias mais e todas as ruas do jardim das oliveiras
não couberam mais dentro do vôo de espantos e
inquietações de clarice e certa tarde por acaso, quando
ela explorava as margens do tietê, descobriu a estação
de trem do jardim romano e partiu na primeira
composição em direção ao grande brinquedo sampa,
sem dizer adeus nem olhar para trás;

não olhou uma vez siquer para trás e hoje a casa da sua
infancia na enseada de itapacoróia é um objeto ôco e
enorme demais para mim, onde caminho como um
morto-vivo por seus cômodos sem alegria, tropeçando
nas saudades herdadas de clarice.

akira – 22/02/2011.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Gilberto Braz, memória de cheiros

lá vem o gilberto braz com seu canivete
de cortar fumo de corda e ajustar palha
de milho, amolado na pedra da memória;

lá vem o gilberto girando no seu radar de
360 gráus, pescando lembranças que
passam lotadas nas tormentas do dia a
dia com suas narinas cataventos.

akira - 18/02/2011.
Cheiro de mãe

Não sei se pra mim é diferente
ou eu que não intindi direito
mas comigo o que acontece
é que cada pessoa ou tempo
me vem através de um cheiro.

Assim pois cheiro de chuva, no verão
me vem na mente as inçá
o campo de bola, as brincadeira da estação

cheiro de manga, é preguiça
os primos demi e sérgio e marcia
tio expedito e tia ciça.

ameixa ou amora,
vem logo na hora:
saudade de dona zaíra

O cheiro de mofo é certinho:
seo Berto, dona rosa
e o seu veio fio Carrinho
sorteirão para sempre
amigo de toda gente

Pó de serra nunca erra:
Craudionô e a marcenaria
cheiro de alcool é roça:
minha irmã que caiu na fossa,
como sei que ela num gosta
vo chamá de maria.

cheiro de fumo é pai
orguio que mareja...
mais quem é que não fraqueja, uai?

aroma de verdura com baruio de feira
eita, que num me guento
se distingo o cheiro do cuento!
é tio givaldo e tia dores
a visitar meus pensamento.

Agora se tem uma coisa
que a gente sente
e não sabe bem como é
é o profume que inspira na nossa alma
quando se alevanta o aroma do café.

gilberto braz 17/02/11.

Carlos Alberto Rodrigues, cheiro bom

o meu amigo carlos alberto também foi
longe, atrás do cheiro confortável de ovo
frito no óleo quente, o popular zoião;

o meu amigo carlos alberto tem uma
dívida comigo, seus versos recentes.

akira - 18/02/2011.
 
Cheiro bom

Uno versos
Universo
Versos únicos
Cozo versos

Manta textual
De papel crepón

Na folha branca
Chiam letras
Como ovos fritos
Em óleo quente
Ah! Que bom cheiro de poesia.

Carlos Alberto Rodrigues
18/03/2002 - Itamambuca.

Luís Casé, velhos cheiros.

porque aqui não é briga de marido e mulher,
e todos devem meter a colher, o que também
não quer dizer que seja a casa da mãe joana;

porque recebi vários poemas respostas ao
"batata frita", descrevendo as mais deliciosas
e caras lembranças de cheiros, algumas até
remontam à infancia e ao útero materno, dos
amigos poetas infalíveis na provocação do
meu bate-bola poético;

e porque faço questão de registrá-los neste
espaço para sempre é que digo:
- saravá, luis casé.

akira yamasaki - 18/02/2011.
O cheiro do pai,
da casa velha...
o cheiro dos gibis
e dos albuns de figurinhas...

o cheiro dos primeiros livros
e da mochila com a merenda
preparada com tanto carinho...

o cheiro do sebo
da bola de capotão
"bola pro mato que o jogo
é de campeonato",
o cheiro da saudade...

Luis Casé – 17/02/2011.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Sachê de Sacha


Escrevi dias atrás um poema chamado "batata frita"
com alguns pitacos sobre a ocorrencia da solidão na
cidade grande, que bate dentro do nosso peito em
certos momentos e nem sabemos porque. Momentos
que ficam marcados por alguns detalhes captados pelos
nossos sentidos como visão, olfato, audição e tato, e no
caso da "batata frita", a solidão ficou apreendida em
alguns cheirosbem definidos como os de maionese, óleo
de cozinha vencido e catchup.

Conversando uns dias depois com o Edsinho, eu disse
da minha dificuldade de escrever sobre cheiros porque
eu não tinha a memória dos cheiros, quer dizer, para
identificar um cheiro eu precisava ficar exposto ao cheiro,
ou seja,não adiantava eu pensar em alho para sentir o
seu cheiro. Então ele me pediu para falar um tempero ou
comida e fechou os olhos, eu falei - ovo frito, e ele - senti
o cheiro de ovo frito, e eu falei - molho de tomate, e ele –
senti de novo. Afora o fato de que já tinhamos uma caixa
de Original (de garrafa), fiquei maravilhado e com muita
inveja dessa capacidade.

Segunda passada, na reunião de eleição do ipedesh, falei
dessa conversa sem pé nem cabeça com Sacha Arcanjo e
demos boas risadas porque assim como eu, o Sacha
também não tinha a capacidade da memória do cheiro,
assim como eu, ele vivia em eterna amnésia de cheiros,
só conseguindo cheirar com o cheiro presente.

Hoje ele mandou-me uma resposta para o "batata frita",
o “batata palito”, um poemaço como só o Sacha é capaz
de fazer. Aliás, vou calar-me para não virar sachê de
Sacha.


Um abraço do Akira.


batata palito

não sabia o que comer
pedi um prato com peixe
veio a batata palito
parecia mais um feixe

um feixe com cheiro forte
de óleo de soja no prato
que aumenta o triglicerídes
e afeta o nosso olfato

senti os cheiros e pensei
no meu nobre camarada
que não associava cheiros
com a palavra citada

comi sem muito prazer
porque estou modificado
como de acordo com dieta
caminho e carrego meu fado.

sacha arcanjo (160211).

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Cristina

morreu a menina
que morava na sé
seu nome era cris

de barriga para cima
o seu corpo flutua
na piscina do chafariz

os olhos fixos no céu
um sorriso no rosto
parece tão feliz.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Eleição no IPEDESH

na eleição do ipedesh, ontem - 14/02, fiquei puto da vida porque resolveram por unanimidade, não fosse o meu voto em contrário montado nos meus mais veementes protestos, reeleger a atual diretoria para mais um mandato de 02 anos;

não concordei e protestei mesmo porque perdi miyuki para o ipedesh nos últimos 02 anos, ipedesh pra cá, ipedesh pra lá, reuniões, treinamentos, congressos, seminários, ongs, movimentos, projetos disso e daquilo para melhorar o mundo, saúde, educação, meio ambiente e etc, etc, e eu no ora veja, podem dizer que não passo de um egoísta que não tô nem aí;

e já deixei avisado, se tudo continuar assim, na próxima eleição vou articular uma oposição para bater chapa com essa diretoria e renunciar ao mandato no dia seguinte;

só assim para ter miyuki de volta antes que ela tome gosto e queira voar mais alto - já pensou, meu compadre?

akira - 15/02/2011.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Mubarak e outros tiranos

(p/ nilson galvão)

se é justa a causa
se sobram enganos
é bela a bala
que tece a rosa
vermelha de gala
no peito do tirano.

akira - 14/02/2011.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Batata frita

onze da noite
metrô itaquera
terminal de lotações
fila indígna

numa casca de banana
de saudade imprevista
escorreguei e caí
no buraco da solidão

buraco vazio
cheio de ausências

resgataram-me do abismo
os cheiros de maionese
catchup e óleo vencido
da batata frita
que vinham da barraca
de algum camelô retardatário.

akira – 11/02/2011.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Palavra clara

guardo um canto matinal
de pássaros simples e comuns
para quando voce ferida
chegar de lugares nenhuns

guardo uma palavra clara
de abraços e ventos na canção
que fiz para ninar a tua alma
e adormecer o teu coração.

akira - 11/02/2011.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Sorriso comum

guardo um sorriso simples
para quando voce chegar
na minha modesta manhã
atrás de fugir e descansar

rede de balanço na sombra
apenas um sorriso comum
constante, calmo e contente
sem motivo especial algum.

akira – 07/02/2011.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Meus poetas preferidos (16)

Chorik

Legítimo japa made in Paraguai. Ele diz que não é poeta
mas os melhores versos que tenho lido ultimamente são
dele. Confiram uma amostra.

Akira.


O olhar de adeus
é de uma frieza cortante,
fatia nosso coração
em finas camadas de solidão.

Carpaccio de dor,
temperado a desamparo
e sofreguidão.

Chorik.