segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Gildo Passos na cara do gol.


Pessoal

O IPEDESH orgulhosamente informa: Gildo Passos é o próximo artista que terá a sua obra resgatada e registrada no Projeto Memória Musical de São Miguel Paulista.
Depois de Raberuan, Osnofa e Sacha Arcanjo, agóra é a sua vez, agóra é a sua hóra. Com mais de 30 anos de serviços prestados para o desenvolvimento da arte e cultura no bairro, Gildo Passos é mais um dinossauro sobrevivente do Movimento Popular de Arte - o MPA de São Miguel, um dos mais poderosos movimentos culturais populares do país que surgiu em 1978 para aglutinar e organizar os artistas e produtores culturais da região.
Poeta genial, compositor de mão cheia e intérprete arrebatador e visceral, agóra Gildo está na marca da cal, na cara do gol e esperamos entregar o seu CD por volta de agosto desse ano.

Um abraço do Akira.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Geraldo

então geraldo encontrou a paz
em cunha, cercado pela natureza
no duro trabalho em seu ateliê
criando esculturas de rara beleza
a foto testemunha que o artista
hoje convive com seus fantasmas
com muita serenidade e leveza.

akira – 30/01/2011.

sábado, 29 de janeiro de 2011

O porquinho com caipirinha do Carlos Alberto Rodrigues

Canção para não se sair para o mar


Ô menino não vá pro mar,

ô menino não vá me deixar,

o mar está em revolta,

o mar não quer você lá.


Ô menino não provoque o mar,

ele não está pra peixe nem pra se navegar.

Ô menino não deixe o seu amor,

chorando na praia, esperando você voltar.


Ô menino não brinque com o mar

Oh! Meu Deus proteja quem sai pro mar!

traga o meu amor de volta.

Oh! Meu Deus, mesmo que seja pra seu corpo eu enterrar.


Ô menino não vá pro mar,

deixa a imensidão se acalmar.

Fique ao lado do seu amor

aproveita a ressaca pra namorar.


Carlos Alberto Rodrigues.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O bentivi do Sacha


bentivi previu o perigo
e fugiu para boracéia
foi me pedir prá ver tevê
prá saber da panacéia

fiquei triste e chateado
sinto pela situação
mas não posso fazer nada
contra chuva fico sem razão

porque sou um ser humano
e se moro onde não devia
pago porque fui levado
por um lider que nem sabia

bentivi já me falou
cuidado com a chuvarada
não acredite em liderança
que te apronta cilada.

sacha arcanjo (26/01/11)

Porquinho, peixe espada, pescada.., com caipirinha

Porquinho com caipirinha

Faz dez anos que eu não vejo o mar
a internet me tragou 
me diz que eu navego
acima do ego
de um id qualquer


Gilberto Braz – 27/01/2011.
(querendo férias, nem que sejam de dois dias.)

o casal

porquinho com caipirinha
filé de pescada à milanesa
não deu nem pra fazer hora
só um picolé de sobremesa

turísmo incidental
os três dias bem curtidos
caminhando descalços na areia
e os sons naturais nos ouvidos.

sacha arcanjo (26/01/11)
porquinho sem caipirinha


que imagem sensacional
eu aqui em casa coçando
me achando o tal
por fazer o Nada absoluto
vendo que se cagam as férias
quando com elas arrasa o final.
 

tiago araújo – 26/01/2011.

O peixe espada e a caipirinha.

Fui até lá de bicicleta
que o menino não conhecia a praia
nem o que é rodar na areia
cinza e discreta.

A praia inda custa acabar
depois do rio e do mercadinho
de peixe que vem fresquinho
das mãos do artezão do mar.

Menino espantado do espada
cara brava olho arregalado
boca de dente afiado
pra comer sem espinhal entalado

Fui até lá de bicicleta
que o amor não conhecia a praia
nem o que é rolar na areia
cinza e discreta.

O quiosque era barulheto
a caipirinha forte e farta.
Voltamos pedalando beijos
que o amor não vai mais acabar.

Cleston Teixeira – 27/01/2011.



terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Vinte e cinco de janeiro

há dias em que seu rosto nunca fica nítido
nele não há rugas para denunciar
a lenta passagem das chuvas
nem raios de sol para acordar as flores
nem mesmo um instante de perguntas sem sentido

hoje o seu rosto nunca fica nítido
rosto de subterrâneos de metrô:
- na estação liberdade fiquei preso para sempre
  nas lagoas orientais dos seus olhos
  num vinte e cinco de janeiro já esquecido.

akira – 25/01/2011.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Bentevi


acordei tarde hoje
porque as hóras perdi
porque não cantaste
nessa manhã, bentevi?

aí liguei a televisão
as enchentes da noite vi
porque não cantaste
nessa manhã, bentevi?

aí chorei por vila itaim
ali mesmo, perto daqui
porque não cantaste
nessa manhã, bentevi?

tres meninas, pantanal
por tuas crianças temi
porque não cantaste
nessa manhã, bentevi?

ai, que imensa aflição
chorei um tietê por ti
para onde partiste
nessa manhã, bentevi?

akira – 24/01/2011.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Porção de porquinho com caipirinha


vortamo da praia, eu e a patroa
um bate e volta de dois dias
de papo pro ar, que vida boa
fui trabalhar hoje, estressei a mil
pôrra, caraio, puta que pariu.

akira - 20/01/2011.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Mãos dadas

de mãos dadas diante do mar
pequenos demais infinito adentro
fiquemos assim, meu amor

um barco desaparece
e aparece novamente
depois das ondas
lá longe

uma criança recolhe
conchinhas brancas na areia
e o vento marinho vem brincar
de morar nos seus cabelos

um pássaro desenha
rastros no horizonte

fiquemos assim, meu amor
de mãos dadas diante do mar.

akira - 18/01/2011.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Salvação


não consegui enfiar a chave
na fechadura da porta

fiquei ali mesmo
emborcado no meu vômito
 
da manhã plena de culpas e dentes
salvou-me um poema, atônito.
 
akira - 12/01/2011.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Classificado

cinco ponto oito de idade
emprego estável, carro, casa
uma família maravilhosa
todas as doenças dos dias de hoje
e a vida normal em direção
à morte segura é o que tenho

descobri no ano passado
no armário vazio dos meus sonhos
umas garrafas para vender
um vôo noturno para arriscar
uns versos na raspa do tacho

descobri mais, o certo não é acertar
nem errar mas sim tentar
não é perto nem longe, mas estar
não é sim nem não, mas duvidar
nem andar nem correr e sim chegar
nem alto nem baixo, mas pular
nem doar ou perdoar, mas amar

por isso anuncio nesse blog
que ainda engatinha, mal completou
um ano de idade um dia desses
procuro um saxofonista que ame
e confie cegamente nos meus poemas
e principalmente esteja disposto
a correr perigo

procuro um guitarrista bluezeiro
pode ser em começo de carreira
que coloque as mãos no fogo
pelos meus versos sem eira nem beira
por certo poucas e parcas besteiras
para correr trecho comigo
e ir até “onde o povo está”

guinada, cambalhota
esse ano vou dar um novo rumo na vida
vou construir uma interferência poética
um show, um recital, um espetáculo
um falatório, não sei o que será
a guitarra, o sax e a poesia
olho no olho e faca entredentes
vender garrafa na feira
cair na estrada.

akira – 08/01/2011.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Passagem


nunca esqueça, andré, que essa horta e jardim foram cultivados por mãos calejadas que apenas pressentiam a ciência dos ventos e estrelas, os ciclos das fases da lua e estações do ano, e a arte da paciência para aguardar o momento certo do plantio;

nunca esqueça também, andré, quando passar por essa horta e jardim, peça licença a seus habitantes camuflados, com humildade e reverencia, para banhar-se com suas luzes claras, que simplesmente não poderá enxergar - feche os olhos, andré, e carregará essa claridade sagrada para o resto dos seus dias, como uma tatuagem, doce lembrança dessa passagem;

nunca esqueça ainda, andré, que há pequenos pássaros aqui, invisíveis insetos e espíritos repletos de ternura, que derramarão com delicadas canções de outono, nuvens de suavidade - feche os olhos, andré, no seu coração embrutecido pela minha ausencia, pelas teclas sem nervos dos micros, e pelos insulfilmes das janelas dos carros, e pelos capacetes com viseiras escuras dos entregadores de pizza;

e por último, andré, nunca esqueça mesmo, quando partir desse lugar esmagando o morno orvalho que cai das suas pétalas e folhas, de pendurar no mais forte dos seus ramos, o tigre gelado da sua solidão - feche os olhos, andré, e tenha certeza que ele estará para sempre protegido.

akira – 07/01/2011.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Noturno estampido

na noite qualquer
um homem cansado
caminha na rua

a nuvem tão branca
desliza no céu
e eclipsa a lua

a lua tão alta
a nuvem no fundo
da poça de lama

na noite qualquer
um tiro, escarcéu
estúpido estampido

sirenes uivando
pipocam mil flashes
um homem caído

a nuvem tão clara
no céu passeia
e desnuda a lua

a lua tão cheia
a nuvem no fundo
da poça de sangue.

akira – 05/01/2010.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Noite suja

(p/ padre ticão)

noite suja do itaim paulista
não traga hoje, eu suplico
para dentro do meu coração
a tristeza homicida
das favelas florescidas
às beiras dos seus córregos mortos

não derrame nos meus ouvidos
o aço fervente das navalhas
da sua dor enferrujada
partida em infinitos estilhaços
espalhados pelos becos devorados
na escuridão medonha
dos points de prostituição
e crackolândias lancinantes

não despeje nos meus dentes
hoje não
a corrosiva tristeza fétida
dos pássaros noturnos que aplaudem
com uivos metálicos e dilacerantes
a sombra pavorosa  dos abismos velozes
sobre desempregados, bêbados e viciados
sem falar das suas crianças cinzentas
nos semáforos sem futuro

não embrulhe hoje o meu estômago
com o cheiro das canções suicidadas
por águias rapineiras pousadas
nas cabeças dos espantalhos vigilantes
em entradas e saídas da cptm
na vila mara, itaim e jardim romano
que vomitam nas ruas pobres
oh noite suja
seus estudantes tristes
e seus trabalhadores derrotados.

akira -03/01/2011.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Novos vôos

tres vezes bati
com os nós dos dedos
em cada cadeado
para que então
desencadeassem

tres cadeados
com os nós dos dedos
tres vezes cada cadeado
nove cadeias encadeei
com tres cadeados.

akira - 03/12/2010.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Novo vôo

balanço a latinha
não ouço nenhum som
não sinto qualquer peso
está vazia.

akira - 02/01/2011.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Primeira latinha

acordei de ressaca mas com todo gás, cheio de piques
e planos para a primeira atividade esportiva do ano,
uma caminhada matinal para colocar as idéias em dia
e livrar-me de algumas toxinas nocivas;

ainda no aquecimento senti uma certa dificuldade para
respirar devido à densidade do mormaço nos pulmões
e o calor escaldante do sol nos miolos;

achei por bem desistir da corrida e para não perder
a viagem resolvi abrir uma latinha para rebater a dor
de cabeça do porre de ontem, aliviar o gosto de cabo
de guarda-chuva na boca e refrescar o calor, pois que
ninguém é de ferro;

antes que caísse no esquecimento levantei um brinde
silencioso e uma saudação de agradecimento ao sol.

akira - 01/01/2011.