na praça da sé
de saída do metrô
uma cigana me chamou
vem cá, seu japa
me mostra a sua mão
não aceito um não
deixa eu ler a sua sorte
é só um vale transporte
aos pés do marco zero
fingimento ou não
o seu sorriso de fome
comoveu meu coração
e partiu a minha alma
os seus pés no chão
se eu tivesse até daria
um vale refeição.
akira.
Em tempo: Lembrei desses versos, não sei quando os fiz,
porque uma cigana me pediu dez centavos
hoje de manhã, na praça da sé.
Dez centavos e hoje não existem mais vales
transportes ou refeições.
no dois mega pixels
da retina celular
num zaztraz o escobar
captura exatidões
e o imperfeito rigor
da casca da cidade
o cheiro é esquivo
fugidia, a cor.
Após idas e vindas, adiamento devido chuva e inseguranças, foi finalmente realizada no sábado passado – 24/07, no horário das 14h às 22h, a 5ª Festa Junina do Metroclube, tradicional evento de confraternização e integração da família metroviária que nesse ano reuniu cerca de 400 pessoas, entre empregados, familiares e convidados, no Metroclube Itaquera.Além de animação e alegria contagiante, a galera trouxe para a festa, disposição de sobra para celebrar a amizade, a comida farta proporcionada por uma mesa comunitária composta de iguarias preparadas pelos próprios participantes, a boa música garantida pelos grupos Raça Ruim (cantorias infantis de época), Semente Africana (MPB) e Trio Garapé (forró), e a diversão variada para a criançada.
E de quebra o de todos os anos
corrida do saco e cabo de guerra
triângulo, zabumba e sanfona
o mais fino do forró pé de serra
cocada, cuzcuz e pé de moleque
quentão, vinho quente e mocotó
sorteios, pescaria e tomba-latas
quadrilha, feijãozinho e forró
um disputado concurso de dança
um bate-coxa que levantou o pó.
Deixo aqui o meu agradecimento comovido a todos os amigos que deram um força na realização desse evento.
Informo mudança da data da Festa Junina do Metroclube do dia 17/07 para 24/07/2010, no mesmo horário, devido previsão de chuva intensa para sábado, feita por todos os institutos metereológicos.
na noite passada
a guerra chegou à minha rua
pulou o portão de casa
e bangue bangue
deixou o meu jardim
sujo de sangue
na noite passada
parecia queima de fogos
dezenas de estampidos
bangue bangue bangue
instalaram na minha rua pacata
a sua primeira chacina
e nem bem amanhecera
crianças de no máximo onze anos
idade do meu filho
bateram de porta em porta
impondo o toque de recolher
elas calçavam tênis da nike
usavam roupas e relógios de grife
e sob os moletons das blusas
deu para perceber os volumes quadrados
das automáticas ponto quarenta
bangue
Sábado que vem, 17/07/2010, das 14h às 22h, tem Festa Junina no Metroclube Itaquera - Av. Miguel Ignácio Curi, 200, perto do Metrô Itaquera.
A entrada é gratuita e nada na festa será cobrado, com excessão da cerveja.
Os participantes deverão trazer para essa indaga, além de muita animação, um refrigerante pet e um prato de doces ou salgados, comidas de época para formação de uma grande mesa comunitária.
Muita diversão para a criançada (brincadeiras, brinquedos, barracas e gincanas) e para os adultos, uma programação musical com o Grupos Garra 88 (rock), Semente Africana (mpb), dos meus chapas Fabio Lima, Edinho, Cafú e Valter Passarinho, e Trio Garapé, garantia de boa música.
E de quebra, o de sempre
corrida do ovo, cabo de guerra
sanfona, triângulo e zabumba
o melhor do forró pé de serra
quentão, vinho quente e mocotó
pescaria, tomba-latas, sorteios
feijãozinho, quadrilha e forró
um disputado concurso de dança
bate-coxa para levantar o pó.
"O finado" é uma dessas deliciosas descrições que só o Carlos Alberto consegue fazer de fatos e situações tragicômicas. Só faltou o café frio, o pão com mortadela e a "marvada" para beber o morto, nessa fotografia da situação inusitada e do ridículo da situação. Divirtam-se. Akira.
O finado
E o sogro morreu!
O sangue vomitado freneticamente,
enegrecido por sobre a cama
Emaranhado em lençol fétido e fronha retorcida
Anunciava a dor e o medo da hora.
A baba espumosa nos cantos da boca
Como brancas nuvens de bons dias.
A velha esposa viu – espantou-se
As vizinhas acudiram, repugnaram-se
A filha chorou, de longe sem ver
O genro voltou a dirigir, suado, dolorido
O filho não sentiu.
Chamado o preparador de defuntos
Deixou-o bonito, tão sereno
De terno azul marinho – o único para ocasiões especiais-
Pronto para o baile eterno
A roda de vizinhos na janela
Via o morto quase dormindo
Mas a mão crispada e rija
Era a presença da morte demonstrada no corpo
Todo homem deveria morrer em lugar amplo
Arejado digno
Mas pobre que morre em casa não tem direito a ir do colchão
Direto ao caixão.
Não passa na janela (pode quebrar),
não dobra no corredor estreito
A nova longa caixa., - A primeira não era a comprada-
Fica na entrada do corredor esperando seu recheio
E o morto envolto no melhor lençol
Vem chacoalhando pesadamente,
Carregado pelo filho, pelo neto, genro e pelo motorista do rabecão.
Por pouco dois não se embolam e vão fazer companhia
Não sei onde estava com a cabeça em janeiro desse ano, que nem percebi, pecado capital, que recebi alguns poemas de Cláudio Gomes, escritos por aqueles dias.
Posto-os hoje nesse espaço, nunca é tarde, versos que enfatizam o estilo veloz e ziguezagueante do Claudio, eterno menino trapezista, de palavras equilibristas da corda bamba, cuspidoras de fogo e arremessadoras de facas, girando no globo da morte.
Akira Yamasaki
08/07/2010.
Caro Akira
Seu carinho sempre aquecendo nossos dias de viver, antes do segundo sol chegar. Aproveito para mostrar uns versos que desenhei nestes primeiros dias do janeiro:
bodyart
é leve o bailarino.
burra dor na joanete.
afinado canivete
o eterno alongar tibial.
alternar plantares no chãodry
flainar meio voal.
Divera
Tem uma pedra que Deus criou
no sapato
aperta calo e doi abeça.
Aparece em retrato.
Vai mente em mente e volta,
volta, inchiste e ainda mais ferra.
As mil faces da mazela
dois mais que ler : muçarela.
evoé
I
tempero com alguma comédia,
minha nobre vida sem drama.
desenrolar o fio da trama.
seguir feliz a tragöedia
olho no olho da trema,
o bóderulho do bicho.
II
refirmar chifre a lima
zanzando a veia da métrica
escrever o não e o sentido
numa emoção elétrica
re virtuar dona rima.
O Sandoval trabalha comigo no Metrô. Com mais de 30 anos de casa, ele é um eficaz e eficiente Supervisor de Serviços Administrativos e de Manutenção da Gerencia de Infraestrutura, uma das funções mais estressantes na Companhia.
Vive apagando incendios, o Sandoval, dezenas por dia, para manter o padrão de excelencia dos serviços do Metrô em conformidade com os mandamentos dos sistemas ISO, OHSAS e Legislação Ambiental. Manutenção elétrica, predial e hidráulica; serviços de limpeza, copa, xerox, coleta de resíduos; logística para treinamentos em salas, auditórios e áreas de lazer; a cada minuto pipoca um incendio, que cai em seu colo para solução imediata.
Tenho mais hóras de reunião do que urubú de vôo, o Sandoval vive repetetindo. Reunião, reunião, treinamentos, fóruns, visitas técnicas, cursos que não acabam mais, já passei dos 50, porra, o Sandoval repete. Gestão de processos, serviços e pessoas, o que mais me mata mesmo é administrar picuinhas, o Sandoval repete referindo-se às suas dezenas de subordinados, o que reforça a minha convicção que estes supervisores de serviços são bombas-relógios ambulantes.
Afora os percalços do dia a dia no serviço que, aliás, ele tira de letra, é um amigo querido, o Sandoval. Pai de familia exemplar, marido devotado, filhos bonitos e saudáveis, boa praça, meio bonachão, conversa agradável e humor inteligente, um dedo de prosa com o Sandoval é garantia de boas risadas. Nas hóras vagas, ele pratica um lazer maluco para xaropes e matuscas: o jipe. Mal espera chegar o fim de semana para pegar uma trilha cheia de barrancos e lamaçais lá para os lados de Bonsucesso ou Igaratá, com seu invencível e possante AF 75, ou para se exibir no super-equipado Willis 75, em encontro de jipeiros, todos treze como ele.
Hobby viciante, o jipe. Tanto que já ando até temendo pela sanidade do meu amigo que de uns tempos para cá só fala em jipes, marcas, motores, trações, pneus, oficinas, 4x4, trilhas acidentadas, poeiras, morros íngremes, rios, buracos, crateras, subidas, descidas, lamaçais e adrenalinas no limite, acho que ele está mais para tatú e caranguejo do que para ser humano.
Às vezes ri sozinho mirando o nada, quando lembra de um detalhe do atoleiro ou do barranco em alguma trilha vencida, da roupa de Indiana Jones suja de barro quando voltou para casa.
- Tá rindo de quê, Sandoval?
- Rapaz, vou te contar. Eu que sou um jipeiro experiente, confesso que tive medo domingo passado, quando o meu AF 75 deu umas engasgadas, começou a patinar no meio de um barranco de uns 10 metros e ameaçou voltar de ré umas duas vezes. Ainda bem que eu sou de circo, virei a direção para os lados, acelerando com tudo para ganhar força e o amigão deu um salto para frente vencendo o morro por um triz. Já pensou a vergonha se caio de bunda no lamaçal?
E tome histórias de jipeiros.
No Metroclube, onde trabalho, sou um cliente do Sandaval e dependo dele para resolver qualquer falha de manutenção. Um domingo destes eu estava realizando um evento para umas 300 crianças na área e a água miou nas torneiras, descargas, chuveiros e bebedouros. Subi na caixa d’água e nenhuma gota dentro. Não tive dúvidas, liguei para o celular do Sandoval e expliquei o que estava acontecendo, 300 diabinhos sujos de suor e terra, correndo pra lá e pra cá debaixo de um sol furioso, no campo de futebol, nas quadras e playground, e advinhe o que aconteceu, a água secou na caixa, velho. - Pois aqui onde estou tem muita água, seu joãoponeis. Estou atolado até o pescoço com meu jipe dentro de um riozinho numa trilha em Santa Isabel, vem me socorrer, meu japa. – Não quero saber de atoleiro nem de jipe, Sandoval. Só quero água na caixa, velho.
De dentro do jipe atolado mesmo ele ligou para o serviço de caminhão pipa e em meia hóra as caixas d’água do Metroclube estavam vazando pelos ladrões.
A última do Sandoval me deixou mais espantado ainda, ele é maluco mesmo. Ele me contou com ar de expectativas que estava para sair de férias e dessa vez seu primeiro destino era a Bahia. Parabenizei-o pela escolha e já estava indicando alguns amigos que moram em Salvador e Ilhéus quando ele me interrompeu dizendo que ia à Bahia por outros motivos que não o lazer e seu roteiro já estava traçado. Na verdade ele vai dar um pulo em Camacan, distante uns 500km de Salvador, para comprar um Willis 78 praticamente zerado que achou na Internet, o preço já está negociado.
- Comigo é assim. Sigo os instintos que ganhei nos milhares de quilômetros que trilhei de jipe. Um jipeiro de verdade não mede dinheiro nem sacrifício por um amigo valente e leal que não vai te deixar na mão na hora agá. Vou, chego, vejo e se o bicho for tudo isso mesmo, compro na hóra.
Preciso dizer mais alguma coisa do Sandoval?
o amor tem dessas coisas
ontem beija, paixão
hoje beija e se conforma
beija amanhã e tolera
sempre que puder, beija
onde e quando não importa
beijo mordido de raiva
beijo de prazer ou obrigação
beijo de piedade, inclusive
beijos diariamente até
soprar as cinzas da paixão
e reinventar o espanto.
Meu nome é Akira Yamasaki e nesse espaço vou contar minhas histórias. Sou um poeta e agitador cultural nascido sob o signo maldito das insatisfações e das aflições inquietantes.
Carrego eternamente nos olhos embotados a dubiedade do meu coração inconstante e fantasmas descontentes arrastam correntes no meu noturno destino. Meu outro signo é a paixão que torna-me fraco, generoso e temente por aqueles por quem sou apaixonado.
Menino cheguei do interior do estado em 1964 na Curuçá - Itaim Paulista e desde então só tive dois endereços, a própria Curuçá e o Jardim das Oliveiras, onde moro desde 1975.
As indagas culturais entraram na minha vida em 1977 devido ao envolvimento com artistas da região de São Miguel e a fundação do Movimento Popular de Arte - o MPA, quando um rangido profundo realinhou as placas geológicas dos oceanos do meu cérebro, o tsunami pegou no tranco e comecei a escrever poesia e teatro como louco e a promover indagas como destino.
Nunca mais parei. Foi no MPA também que conheci Sueli Kimura, magra como um ramo espichado de sakura, japonesa de olhos indaquentos e inteligencia incômoda, beleza oriental de traços suaves e intrigantes. Paixão fatal e casamento.