sexta-feira, 30 de abril de 2010

Tsutae

a vida prolongada
em tubos, fios artificiais
e instrumentos de precisão
que injetam quantidades
exatas de oxigenio
alimentos e remédios
para controle da dor
- meu deus, da dor
já é uma espécie de morte

se o corpo agora
inanimado e horizontal
pendura-se em raízes
de plástico e metais
submissas aos mais rígidos
procedimentos e protocolos
de limpeza e higiene
estreita-o ao colo a alma
pássaro etéreo e hesitante.

akira.
30/04/2010.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Cláudio Gomes

Espera um pouco.
Não confunda alhos com bugalhos nem Jesus com Genésio.
É preciso separar sempre o joio do trigo.
Se o bem e o mal existem, Cláudio Gomes é do bem.
Nessa vida de divididas às vezes ingratas é difícil encontrar
um cara mais honesto e correto que ele.
Ninguém duvide disso.

Akira.


Éter

O homem que há em mim
Habita o ingênuo clown
Copia o menino que fui,
modela o velho que rui
Insiste em ficar sãun

Menino que há em mim,
chispante anjo fedelho,
grisalha em vários tons
Quando se vê no espelho

A vida marca assim
Fulgáz onda ao vento
O ser que habita em mim,
canta in vários sons
Sem documentos nem lenços

Anjo que voa em mim
Menino velho ligeiro
Sopra o vento do fim,
                                                                                     flutua / cisca, inteiro

Cláudio Gomes.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Drácula, de Claudemir Santos (Imperdível Ensaio aberto)

Sábado, dia 24 de Abril, as 20h30, acontecerá o ensaio aberto de "Drácula", na Luiz Gonzaga.
O espetáculo que estréia dia 01 de Maio e inicia sua temporada dia 15 de Maio realizará um ensaio aberto dia 24. A idéia deste ensaio é mostrar ao publico um "making off" do espetáculo. Será como se todos chegassem ao ensaio, com direito a erros de cena, discussões sobre cenas e sentidos, explicações e criação de cenas ao vivo.
O bacana deste tipo de apresentação, é que o público terá a oportunidade de vivenciar um pouco do processo de criação adotado pelo grupo em seus trabalhos, onde o bom humor, as referências culturais e as opiniões criam um clima de criatividade, descontração e polêmica entre os participantes do processo.
O objetivo da apresentação também visa conhecer a reação do publico diante de algumas idéias que serão inseridas no resultado final do espetáculo.
Entrada Franca.

DRACULA - ENSAIO ABERTO
SABADO - 24 04 - 20H30
OFICINA CULTURAL LUIZ GONZAGA:
RUA AMADEU GAMBERINI, 259 - SÃO MIGUEL
INFORMAÇÕES: claud-santos@hotmail.com

POSTAGEM DE CLAUDEMIR SANTOS.

Bola e pião

no auge da paixão intensa
ocorre a cegueira da razão
por onde vaza o ponto de luz
também penetra a escuridão

sou poeta e só pertenço
aos desmandos do coração
dores do mundo rodopiam
na palma da minha mão

meu pai dizia sempre
esse mundo é uma bola
girando no eixo de si mesmo
se mais rola mais me enrola

um brinquedo de criança
o mundo é mesmo um pião
uma ponteira imaginária
equilibra a sua rotação.

akira.

domingo, 18 de abril de 2010

Agenda Metrô (2)

6º Encontro das Oficinas de Itaquera

16/04/2010 - 07h30, Auditório do Pátio de Manutenção do Metrô de Itaquera. Aventais e macacões cinzentos, azuis e verdes. Mecânicos, eletricistas, ajudantes, aprendizes, estagiários, técnicos e engenheiros.
Umas 130 pessoas, a maioria homens, reunidos para o 6º Encontro do PRI – Programa de Relacionamento e Integração das Oficinas de Itaquera e cenário de uma das maiores emoções que senti na minha vida.
Nessa 6ª edição, a Comissão do PRI resolveu inovar no formato do desenvolvimento da atividade e introduziu alguns diferenciais importantes:
1) substituiu o modelo expositivo e didático dos anos anteriores, com apresentações de palestrantes com fórmulas acabadas, por um modelo de interação que subverteu a relação palco/platéia e colocou todos os empregados em cena, como atores e personagens de um enredo comum a todos;
2) promoveu a discussão e a reflexão do tema central do 6º Encontro, por meio de atos de criação artística, com realização de oficinas de escultura, pintura, dança, fotografia, rítmo/percussão, arte/artesanato, pintura, música e literatura;
3) promoveu a valorização dos empregados do departamento utilizando como instrutores/monitores das oficinas, funcionários que realizam em paralelo às suas funções na empresa, atividades artísticas no seu dia a dia.
Todas as oficinas de arte tinham o tema “Como enfrentar as diferenças unidos” e o tempo de realização era de uma hora e meia. Ao fim desse prazo os grupos teriam que apresentar os produtos das oficinas no palco do auditório.
Não sei porque cargas d’água, talvez porque vez por outra cometo alguns versos, coube-me realizar a Oficina de Literatura e confesso que tremi nas bases por nunca ter participado de/ou ministrado qualquer atividade de criação literária. Tenho certeza que sozinho não conseguiria e por isso implorei ajuda a Dona Sueli Kimura, ao meu chapa Raberuan e fui com um boi para o sacrifício.
Ainda bem porque foi uma das maiores emoções da minha vida quando assisti no palco à teatralização do texto criado coletivamente na oficina. Texto tosco, pobre, sem nenhuma carpintaria e que dizia somente o que queria dizer, mas o texto mais bonito que vi na minha vida.
Enquanto assistia tentei disfarçar algumas lágrimas furtivas.

Akira Yamasaki.
18/04/2010.

Agenda Metrô (1)


CESTA DE ARTES NA SEXTA

Realizo com entrada gratuita, uma sexta-feira por mês no Metroclube, onde trabalho, o Projeto Cesta de Artes na Sexta, evento que tem por objetivo promover um espaço de expressão para artistas metroviários nas mais diversas linguagens da arte (poesia, teatro, música, dança, artes plásticas e outros), e assim como, proporcionar momentos de recreação sadia e integração da família metroviária por meio de eventos culturais. Já é o terceiro ano de projeto.
Em cada Cesta na Sexta, ao lado dos artistas metroviários apresento também, convidados especiais que sempre enriquecem e alargam os horizontes do projeto. Por seu palco já passaram, por exemplo, nomes do quilate de Raberuan, Gildo Passos, André Marques, Gilberto Braz, Comunidade do Cafofo e Cleston Teixeira e Osnofa.
No dia 09/04/2010, a partir das 19h, o palco do Cesta na Sexta foi ocupado pelo Eletricista de Manutenção do Metrô, Ronelson Martins, o popular Pelezinho, que nas horas vagas é Presidente da Comunidade Samba Jorge da Vila Curuçá, entidade que além de resgatar e preservar as raízes culturais do samba,faz do samba um instrumento de integração comunitária e desenvolvimento de projetos sociais para melhoria de qualidade de vida.
E como é de praxe, nesta sexta-feira o Cesta na Sexta recebeu um convidado muito especial: o carismático cantor e compositor Sacha Arcanjo, devidamente escoltado pelos chapas Marcelo Valença, Nando Z e Rodrigo Marrom.
Poderia puxar a sardinha para a minha brasa e dizer que o evento “bombou”, mas deixo que as fotos falem por si.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Verdades

tudo bem, eu menti pra voce
menti, menti, admito que sim
mas há verdades, meu amor
que eu não conto nem pra mim.

akira.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Meus poetas preferidos (11)

Eliana Mara Chiossi

Posto a seguir, pequena amostra do trabalho de Eliana Mara Chiossi, poeta e escritora de talento raro e transbordante, e de comovente lirismo, de quem quase não ouso falar pois tudo que eu disser será muito pouco. Como se não bastasse, ainda é minha amiga de longa data.
Lembro que conheci a Li nos primórdios jurássicos do MPA – o Movimento Popular de Arte de São Miguel, quando ela fazia parte do TeRua, grupo de teatro de rua, juntamente com Severino do Ramo, Cláudio Gomes, Sueli Kimura e outros. Muito jovem ainda, devia ter uns 14 ou 15 anos, ela era doce, meiga e seu talento para a escrita era assustadoramente precoce.
Perdemos contato no final do anos 80 e as esparsas notícias que tinha da Li era através de Sueli Kimura. Em meados do ano passado ela fez o lançamento do seu livro Fábulas Delicadas na Livraria Martins Fontes e não pude comparecer ao evento porque estava trabalhando no dia, mas Sueli, Clarice e André representaram a família.
Só vim a ler o Fábulas no final do mês passado quando fui obrigado a ficar de molho em casa devido uma lesão muscular adquirida no futebol de fim de semana. Li de um fôlego só, fiquei comovido e apaixonado pelo livro e descobri uma escritora excepcional, dessas do tipo arrasa-quarteirão. Não contente devorei babando de ponta a ponta o seu Blog (http://inscriçõessempreabertas.blogspot.com/), que é um verdadeira aula de literatura e de como escrever bem.
A Eliana “fez parte do MPA, onde descobriu a paixão pela literatura e outras artes, e atualmente mora pertinho do mar, em Salvador – BA. Ela é professora doutora (UFBA/UEFS) na área de Estudos Literários.” Além disso ela é linda e é minha amiga, de dentro do seu abraço não quero nunca mais sair.

Akira Yamasaki.
09/04/2010.



MESA

Nenhuma flor é necessária agora. Quando chegar a manhã, bordada de acontecimentos, quero belezas novas. A estreia de flores recém-abertas no seu viço, flores que visitem a minha casa e abrandem a desilusão. Gosto da vida breve e altissonante das flores. Quero a vida de cada uma delas, em síntese e glória. Flor que exista sem excessos. Exuberância exata, inscrita no desenho justo do tempo. Gosto de ser flor, quando me vês assim, buquê de belezas. Quero a existência matemática da flor: pés descalços na história. Dispersão e lascívia em vários tons. Gritos delicados e todo o encantamento da pintura.

RÉGUA

Seria do tamanho de um soco no estômago. O tamanho de um soco, vindo de mão muito grande e bruta, no estômago de um bebê. Soco bruto e grande no estômago de um bebê prematuro. Seria do tamanho de uma agulha grossa furando um olho. O tamanho de uma agulha grossa e enferrujada furando o olho surpreso. Seria do tamanho de uma bala quente, estourando os miolos de uma mulher assustada. Seria do tamanho de um estupro de meninas vítimas de guerra. Uma menina apenas, estuprada por vários soldados quentes, munidos de socos, calor e balas. Seria uma calda quente despejada no ouvido. Uma calda quente, no ouvido, tortura para durar horas. Ouvido estourado, miolos quentes, tortura despejada, meninas, bebês, olho furado. Seria uma dor tão grande quanto um corpo vivo sendo esquartejado, enquanto vivo. Ou então, uma lista infinita de dores que cabem na imaginação e na realidade humanas. Nada poderá medir a dor que voce vai sentir quando seu filho for assassinado.

Meu tarot
Se o que em mim é um cavalo,
soltasse as rédeas e se despisse,
talvez fosse mais fácil dormir.

O que é cavalo em meu corpo
se acovarda
e paga tributos aos coelhos
e aos pombos sem graça alguma.
O cavalo que sou se cala, grunhe,
rói as unhas, temeroso.

Sou um cavalo parado,
sobre quatro patas indecisas.
E o cavalo livre,
dorso brilhante e crina solta,
este,
planta em mim o seu leão.

Eliana Mara Chiossi.


terça-feira, 6 de abril de 2010

Último domingo (4)


é o fim, dessa vez
foi meu último domingo
foram meus últimos dois gols
não posso mais, não dá mais

estiquei além dos limites
o elástico das minhas possibilidades
atrasei o quanto pude
a idade dos meus ossos
o relógio das ilusões e fantasias

devia ter parado no tique
- só pelé soube o momento certo
da pedrada de estilingue
no músculo da barriga da perna

dói ser interrompido assim
pela desobediencia da bola
no taque do punhal do tempo
sem volta olímpica, o silencio
da bola como testemunha.

akira yamasaki
06/04/2010.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Miyuki



ela trouxe
dos seus tempos de menina
um mickey mouse de pano
nariz de flanela
e sorriso de plástico

o guardou pendurado
na parede do quarto
onde o abajur o ilumina
sempre na mesma postura


nas noites de vinho e loucura
quando ela se solta
em seu galope de mulher
não percebe que mickey a observa
com seus olhos de crina e palha

nem que a noite é longa
e o guarda noturno apita.

akira.
1981.