sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Meus poetas preferidos (04)

Raberuan

Raberuan é meu irmão siamês e estamos condenados
Estamos grudados pelas costelas e não podemos ser separados
Se um morrer o outro morre junto
Não quero morrer antes
Raberuan não quer morrer antes.


Água clara de cascata


meu coração está pendurado
no cordão do seu pescoço
bem na curva da estrada
no caminho do teu seio
meu receio é rabiscar
a tua pele dourada
meu coração que não é de ouro
é simplesmente de lata
não enriquece tesouro
nem reluz brilho de prata
mas é o mais feliz de todos
pois derrama no teu couro
água clara de cascata.


Raberuan.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Gás da Nitro: Políticas e Pertencimentos




Gás da Nitro: Políticas e Pertencimentos
 Félix Santana era monossilábico. Sempre de pouca conversa comigo como se as palavras queimassem a boca ao sair, ou porque em boca fechada não entra mosquito, ou porque não confiasse em mim, os assuntos com Félix se arrastavam como lesmas num exercício de silencio e paciencia elevado à última potencia e entendimentos advinhados nas entrelinhas das raras palavras trocadas no limite da educação e cortesia. No início então, quando conheci o Félix em 1978, na velha casa na Vila Sinhá, através do seu filho Edvaldo Santana, lembro que ele falou comigo só depois da terceira ou quarta vez que apareci por lá, desconfiado do japonez esquisito, cabelos abaixo dos ombros e barba maior que a de Jesus Cristo, mais um hippie xarope que anda por aí com Edvaldo, escrevendo poesia e falando de revolução.
Diferente de Félix era Dona Judite, que me recebeu de braços abertos e risadas sinceras - os ratos vão fazer ninho na sua barba, Akira, a sua mãe não reclama desse cabelo, não? Judite Santana que sonhou e só sonhou com o coração apertado pelos filhos, e depois, quando virou minha madrinha de casamento incluiu-me em suas preces protetoras.
Félix Santana tinha o passo acelerado quando andava, hábito adquirido desde criança, ao percorrer diariamente, longas distâncias no nordeste, e talvez tenha desenvolvido aí, a capacidade de falações mais fluentes  enquanto caminhava no rítmo correto da necessidade. Foi durante um estirão pela Nordestina, Félix andando e eu tentando acompanhá-lo sob um sol insano de fevereiro, indo do cemitério velho até a Vila Sinhá, que Felix puxou as minhas orelhas e falou da Nitro-Química para mim, - a Nitra -, como ele a chamava. Defendeu  a posição de relevancia da Nitro-Química no contexto da paisagem física e geográfica de São Miguel Paulista e ensinou-me que os rolos de fumaça de tantas cores diferentes expelidos pelas chaminés da fábrica eram a principal referencia histórica, econômica, esportiva, social, recreativa e cultural do bairro. Félix pertencia à Nitra e a Nitra à Felix, nunca mais esqueci. 



gás da nitro (1)

quem vê de longe
logo reconhece
gás da nitro
dançando no céu
gás da nitro
meu amor
cartão postal
de são miguel.

gás da nitro (2)

madrugada de chumbo
pipocam metralhas no silêncio

do alto da pedroso
edson gordo, o cara
mais importante do bairro
observa as luzes
nas vilas lá embaixo
imagina cada trabalhador
que dorme na curuçá e no robrú
na nitro-operária
no primeiro de outubro
jardim helena é só uma mancha

vagam lumes na escuridão
gás da nitro peidando firme
abocanhando casas e estrelas
miséria, pôrra
a classe operária, pôrra
no alto da pedroso
edsinho, o gordo
duas lágrimas furtivas
inundam são miguel.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Meus poetas preferidos (03)


Sacha Arcanjo


Sacha é a semente dividida que vingou alem fronteiras, alem sonhar. Fincou raízes, mas com a sabedoria de se alimentar da seiva de águas salobras, do feijão nascido nas roças do sertão de Irecê e São Gabriel. Semente dividida que vingou pela sabedoria da música e da poesia.

Edson Tomaz




Os cabelos prateados do poeta, nada mais são que cachos de estrelas dançando com a sua música. O poeta resistiu ao estio de São Gabriel para reflorescer nas esquinas de Sampa.
Jocélio Amaro

Para mim a palavra que melhor traduz Sacha Arcanjo é aconchego, porto seguro onde encontram abrigo certo todos os amigos que ali aportam. 
Sueli Kimura


Viu Tomé... branquinha ou amarela? 
Qualquer uma Simão, passa a régua!!
Raberuan




Sacha Arcanjo: amigo, irmão, mentor, influência artística, confessor, professor. Tudo em seu momento oportuno! Uma das melhores pessoas que conheci no mundo! Salve, Arcanjo!

Claudemir Santos.


O Brazil não conhece o Brasil. A canção de Aldir Blanc e Maurício Tapajós (“As querelas do Brasil”) continua atualíssima. Não dá para entender por que artistas de grande talento como o cantor e compositor Sacha Arcanjo não são ouvidos hoje pelo público de todo o País.
Há uma dívida de reconhecimento ao seu trabalho, ao menos há 32 anos, quando iniciou a carreira.
Gilberto Nascimento, editor da revista Carta Capital.


Fala, vagabundo

Fala, vagabundo
Quem foi que te libertou
Do vazio submundo
Do jornal que se queimou
Daquelas nebulosas
Torrentes de águas ardentes
Das pesadas cangas
Nos teus ombros doentes
Dos vermes, das traças
De afiados dentes

Fala, vagabundo
Da dor que te cortava
Do vício fecundo
Que teu corpo calejava
Dos antigos imbecis
Da banda dos baturas
Dos sapatos furados
Do amor das prostitutas
Da legião dos farrapos
Na sombra úmida das grutas

Fala, vagabundo
Que quer reviver outrora
Coçar marca de fungo
E roncar no romper da aurora
Assoviar com as ventanias
Banhar com as tempestades
Brincar com os pirilampos
Quando cairem as tardes
Brigar com os viralatas
E vomitar lorotas covardes

Fala, vagabundo
Daqueles caminhos tortos
Daquele recanto imundo
Onde os planos foram mortos
Contudo não cores
A tua face enrugada
Onde já rolaram prantos
De saudade bem salgada
De palavras que ficaram
Na garganta engasgada

Fala, vababundo
Porque razão sepultaste
Em fossos profundos
Os que pra ti foram trastes
Que agora é outras notas
Outros símbolos, outros elos
Que os que foram já eram
E outros ficaram amarelos
E que no teu pomar de lodo
Hoje reinam cogumelos

Fala, vagabundo.

Sacha Arcanjo.

 

sábado, 16 de janeiro de 2010

Periferida - 1979/1985



canção pequena para ninar um menino morto

agora o menino dorme
na sua postura correta
sozinho na noite enorme
como quem dorme
de forma completa

por não ter havido outro jeito
senão crescer depressa e a esmo
na escola das ruas e ter feito
de si o indefeso refém de si mesmo

por não ter havido diferença
entre as coisas da vida e da morte
foi morto com bala de polícia
mas podia ter sido de fome ou de corte


e na poça de sangue que anoitece
no jardim de pedras que apodrecem
se abre na terra o noturno girassol
que seus negros cabelos tecem

Akira - 1979. 



Periferida – 1979/1985

Em 1978, a principal razão que organizou os artistas de São Miguel Paulista em torno do Movimento Popular de Arte – MPA, foi a luta pela reforma e restauração da Capela Histórica e a sua transformação em um Centro Cultural dinâmico e aberto para a população que funcionasse como polo aglutinador e irradiador da arte e cultura produzida na região. Para sensibilizar e envolver os moradores do bairro na proposta de transformação da capela em centro cultural foram desenvolvidas diversas ações na época, como por exemplo, ocupação da capela com mostras e programações artísticas e culturais, abaixo-assinados, manifestos, tratativas e negociações com o estado e com a igreja, culminando com um última reunião envolvendo MPA, estado e igreja, quando foi oficializada a negativa da igreja, proprietária da capela, à reinvindicação dos produtores culturais de São Miguel.
Com o não da igreja e passada a fase da ocupação da capela, o MPA ficou no olho da rua feito cachorro caído do caminhão de mudança. E agora? O que fazer e para onde ir? O jeito era ocupar as ruas e praças do bairro e os parceiros preferenciais seriam os setores organizados da população: comunidades de base, sociedades amigos e movimentos sociais e sindicais. Foi criada então, a Praça Popular de Arte, evento cultural que era realizado em praça pública e dividido em 03 partes: de manhã – atividades infantis; à tarde – evento com exposições de artes plásticas, fotografia, varal de poesias, shows musicais e espetáculos teatrais com grupos do bairro e de outras regiões e cidades; e à noite – um forró geral com sanfoneiros da região, evento aliás, que deu origem à Praça do Forró.
O Periferida nasceu meio por acaso nesse contexto e pela necessidade nos dias de Praças de Arte, de contatar e atrair as crianças do em torno das praças para as atividades infantis preparadas. Algumas pessoas que gravitavam meio sem função definida em torno do MPA, poetas, músicos desgarrados, pintores ou simplesmente malucos simpatizantes da causa, resolveram montar uma peça infantil de rua do Teatro Núcleo chamada a Ilha do Patropi, para atrair a criançada com um cortejo teatral e musical pelas ruas ao redor das praças onde seriam realizados os eventos. Posso dizer que o Periferida nasceu cantando:
“numa ilha bem distante
as pessoas são iguais
enroladas em barbante
embrulhadas em jornais
por causa de um rei – REI!
que agora é a lei – LEI!
por causa de um rei – REI!
seu nome eu não sei – SEI!”
O que no princípio era brincadeira acabou ficando sério, os porralouca  do Ilha do Patropi tomaram gosto pela coisa, compraram os “100 exercícios”, do Boal, conseguiram com o SOF – Serviço de Orientação à Família, uma entidade que atuava junto à gente carente do bairro, uma sala para ensaios e criaram o Núcleo Teatral Periferida, pronto, ponto e era 1979. Método? Se tinha até hoje eu não sei, muita intuição, talvez, e uma pá de criaturas generosas e geniais: Fátima Bugolin, Geraldo Castro, Artênio Fonseca genio genial, Marlene e Edmirson Rodrigues, Mestre Dáio de Capoeira, Jorge Gregório - o Gueguê, Edna Bugolin, João Batista Muniz, Comadres Ivonês e Zefinha, Akira Yamasaki, Sueli Kimura, Juarez Santos, Neuza Munhoz, os meninos Levi, Marivaldo e Moacir, Edsinho Tomaz e Zé Paes.
Durante sua breve existencia, de 1979 a 1985, o Periferida montou 03 peças de teatro, a saber, o Ilha do Patropi – infantil de autoria do teatro Núcleo; o Canção Pequena Para Ninar Um Menino Morto – adulto, uma colagem de textos, poemas e músicas de vários integrantes do MPA; e o Soldado Jesus – adulto de autoria de Artênio Fonseca. Nesse período o grupo cumpriu uma rotina de atuações em parceria com movimentos sociais e entidades que compunham o espéctro de resistencia à ditadura militar, em palcos improvisados em ruas, praças, igrejas, sociedades amigos de bairro, comunidades de base e sindicatos de trabalhadores.
Acho que o Periferida terminou em 1985 porque já não havia uma proposta que unificasse os seus integrantes, seja de ordem ideológica ou estética; porque os tempos já eram de construção e não de resistencia; e também porque a água começou a bater na bunda, família, filhos, escola, médicos, remédios, aluguel, despesas, contas para pagar. Sobrevivencia.
Akira – 15/01/2010.




quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Tandrilax e cataflans (p/ Eliel Lima)




Meu cantor preferido, peço desculpas a Luiz Casé e Fábio Lima que são os maiores, é Eliel Lima. Akira - 14/01/2010.


tandrilax e cataflans

a idade trouxe de presente
além de alguns kilos mais
e muitos cabelos de menos
miopias e falhas nos dentes

de quebra a idade trouxe
artrites e arterioscleroses
perseverantes artroses
tandrilax e cataflans

úricos ácidos excedentes
a gota pingando em gotas
cólicas e dores atrozes
voltaréns e buscopans

insensato sol hipertenso
cálculos renais inexatos
véu da morte, inodoro gás
alopurinóis e bicarbonatos

oh enalaprílicos maleatos
estiquem até o extremo limite
o meu elástico da juventude
oh alodipínicos besilatos



akira.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Meus poetas preferidos (02)

 


Gilberto Braz

Conheci Gilberto Braz numa noite gelada de julho de 2004, no Jardim São Vicente, na casa de Zulu de Arrebatá e Sonia Santana, num evento cultural com tudo de direito, exposição de pintura e escultura, violão, falação de poemas, bebidinhas, salgadinhos, conversa inteligente, dezenas de artistas presentes e Zulú tentando fazer o som funcionar. O velho Zulú de sempre. Por ter ficado afastado das indagas na região e exilado dentro de mim desde 1988 mais ou menos eu vinha tateando meu retorno ao circuito junto com outro exilado, o Raberuan, e na época tentávamos restaurar antigos laços de amizade e construir outros enquanto procurávamos juntos um conceito para um trabalho com suas músicas  que resultou depois no CD “Tião”. Nessa noite constatei na casa de Sonia e Zulú a dimensão dos estragos causados pelo meu exílio quando me senti um peixe fora d’água por não conhecer ninguém no evento, exceção feita a alguns dinossauros dos tempos heróicos como Zé Paes, Rose Beltrão, Sacha, Célia Cabelo, Sueli Kimura e Raberuan. Lá pelas tantas subiu ao palco um poeta da nova geração, de nome Gilberto Braz,  que chamou a minha atenção pela força, qualidade e teatralização dos seus versos, e em meio a sua performance, surpreendeu a todos ao declarar a sua emoção por ter conhecido nessa noite, o lendário Raberuan em pessoa. Raberuan virou lenda, pensei inquieto. Em 2005 realizamos vários shows de lançamento do CD “Tião” e Gilberto Braz foi convidado para participar realizando interferências no espetáculo com poemas de sua autoria e em 2007 conheci melhor a sua obra poética quando montamos juntos o “Akira e Gilberto Braz”, um espetáculo que misturava poesia, teatro, música e imagens, para o Quintas Culturais, projeto que Sachinha, Sheila Rios e Raberuan levavam no Bar do Wlad em Ermelino. Esse espetáculo foi o embrião do “Um pé no cotidiano” que engrossado pelos chapas Cleston Teixeira e Raberuan, desde 2007 vem correndo trecho e cumprindo seu destino de libertar a poesia da sua prisão de papel.
Sobre a grande poesia de Gilberto Braz não preciso encher linguiça por que ela fala por si. 
Akira – 11/10/2009. 





"1974

O seo idiel é o inspetor de alunos da nossa escola
- Ô, moça, num quero um pio!
- Ô,  moço, num quero prosa!

O seu apito é um sinal e curto é o seu pavio
- Ô, moça, num quero prosa!
- Ô, moço, num quero um pio!

Sempre de cara brava, sempre com olhar sisudo
- Ô, moça, guarde esta bola!
- Ô, moço, pare de correr!

Mas um  sorriso furtivo,
tão raro em seo idiel
revela que apesar de tudo
ele não é tão cruel

é que naquela ditadura
mesmo sem o saber
cada um tinha lá o seu papel

- Ô, moço, num quero um pio!
- Ô, moça, nem quero o céu!"


"1975

O seo idiel subiu no palco.
Ele está lá no alto
da sua posição privilegiada

Sentinela,
vigia para que nenhum pintinho voe.

O seu olhar é de águia:
ele tudo vê, tudo oive
aponta para qualquer um e grita:

- Ô, MOÇO, EU NUM QUERO PROSA

é o que basta, o bastante, é instantâneo
500 crianças se arrumam, perfilam-se
e calam suas curiosidades

20 anos depois, uma delas
descobre porque preferiu a poesia."


"Olhar

Tua voz de seda vale um flerte.
Teu flerte vale o meu flerte.

Teu silencio
pontuado de palavras vale um flerte.
O compasso dele vai dizendo
os teus olhos vão dizendo
que tudo em voce vale o flerte.

Se te pego flertando com outro, me mato
te mando algumas flores depois."


"Abril
                 
Se davam como bons amigos
sem jamais perceber
o mar de amor que havia de ser

Flertavam como adolescentes
na urgência de um olhar
que não diz, mas que diz
sem dizer que dirá

Se amavam como dois amantes
platônicos
mas numa tarde de abril
o amor não resistiu"


"Estética            

A miséria é um prato cheio
para o fotógrafo de arte
Sua obra denuncia que apesar de tanta fome
Há o belo em toda parte

A miséria é um bom prato
para as gentes das galerias
ela prova o acerto de certas linhas estéticas
e é crível que o bom gosto por um olhar miserável
há de ser conservado, para o bem de sucessivas gerações
e da verossimilhança
Não se culpe o fotógrafo pela oportunidade da imagem
Ela é triste e bela, e só revela  o sintoma e  a  sintonia
entre a triste beleza dela e das gentes das galerias."


sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Meus poetas preferidos (01)




Cláudio Gomes
Conheci Cláudio Gomes em 1978 na efervescencia do MPA embrionário. Ele era muito menino naquele tempo, devia ter uns 18 anos de idade, mas tenho a impressão que hoje ele é mais menino ainda, o tempo preservou e acentuou o seu sorriso maroto de moleque levado, sua marca registrada. Ele veio no pacote do TeRua – o Teatro de Rua -, e trouxe a tiracolo pessoas e artistas do naipe de Severino do Ramo, Eliana Mara, Reinaldo Rodrigues, Sueli Kimura e outros, todos quase crianças ainda, mas esclarecidos e maduros demais para a idade, e em seus olhos brilhava a sede desesperada por mudanças.
O Cláudio Gomes menino mudou o meu coração. Fiquei encantado com a sua poesia que dava vida a  pessoas anônimas e invisíveis na grande cidade, com versos velozes e econômicos de sínteses desconcertantes, cortes abruptos e cirúrgicos, rupturas, aproximações, arremates na medida exata. Tenho certeza que se eu ler o que o Cláudio anda escrevendo hoje em dia, o meu coração mudará novamente, mas por enquanto eu me contento com alguns poemas daquele menino genial.
Akira – 08/01/2010.




“DO LADO
DE QUEM ENTRA
NO TREM PRO BRÁS
ENTEGENTES VI
AQUELE VELHO MORENO.
ERA O BOI
QUE FESTAVA TANTO
DO BUMBÁ DE ARAPIRACA”



“na minha lembrança
ela era ainda a Bela
jovem pastora do cordão encarnado
que dançava tão bonito
na minha infância arapiracana.
hoje encontrei-a na feira do Itaim
carregando sacola, filho chorando
atrás dela
... acabada, com rugas!

já não dançava
se arrastava
no meio dos apertos da feira
não assobiei Fiu Fiu como outrora
disse bom dia, como vai a família,
lembranças a Isidoro seu marido,
apressadamente...”


“tupy nicidade

mais um índio
levou um pé na bunda e desceu
numa velozcidade estonteante
como não disse caetano
...e arrastou a mulher e os filhos

no meio do lugar chegado
estendeu o resto pro povo ver,
e o povo do lugar viu,
viu e nada comprou.

antes da mãe-lua chegar
pediu uma esmola
pelo amor de deus”